Pandemia impacta o mercado de bicicletas em Guarapuava

Segundo alguns empresários da área, o novo coronavírus trouxe vários novos apaixonados pelo esporte, mas também fez o ramo ter uma quebra no número de veículos e peças

A pandemia do novo coronavírus atingiu várias áreas da economia e também do esporte, tanto no Brasil como no mundo. O ciclismo, em Guarapuava, não é diferente. O CORREIO foi atrás de alguns empresários que trabalham na área para saber como está sendo o impacto da pandemia nesse ramo.

Luis Anderson Perterlini é proprietário de uma loja que vende bicicletas e acessórios relacionados ao ciclismo. Trabalhando há 20 anos na área, ele conta que a pandemia trouxe um aquecimento no mercado, porém, teve seus pontos negativos.

“A gente não esperava uma pandemia dessas, mas eu vejo que o mercado das bicicletas está bem aquecido. Porém, ao mesmo tempo, tivemos um agravante que é a oferta do produto em si. No caso, vários modelos e componentes de bikes estão em falta para nós”, afirma.

Luis explica que o que está norteando muito essa mudança e perdas no mercado é a regra da demanda e do serviço oferecido, e que muito é influenciado por questões internacionais.

“Tem o lado bom do negócio, mas em contrapartida tem o ruim também. É, justamente, a lei da procura e da oferta. Os preços das bikes subiram bastante, não só por essa regra da demanda, mas que somos reféns do dólar também. E isso influencia muito aqui”.

Peterlini diz ainda que, além do impacto na venda, a pandemia também afetou no conserto de bikes, pois muitas peças importadas não estão sendo feitas e, consequentemente, não chegam no estabelecimento comercial.

“Estamos com o problema de falta de mercadoria, tanto as bikes completas como também nos componentes de manutenção e reposição de peças em si. Então, até o mercado normalizar eu acho que vamos ter uma fase de bastante turbulência”, salienta.

Para um dos lojistas, a partir do momento que a população viu que a pandemia não iria passar tão rápido, houve um maior interesse na compra de bicicletas (Foto: Lucas Herdt/Correio)

PERSPECTIVA
Dono de uma loja do ramo das bikes, Edson Przybylski há 10 anos assumiu essa atividade. Para ele, a partir do momento que a população viu que a pandemia não iria passar tão rápido, houve um maior interesse na compra de bicicletas.

“O mercado de ciclismo teve uma retração no início da pandemia, e depois as pessoas voltaram a comprar as bicicletas para o meio de locomoção ou para substituir alguma atividade que fazia coletivamente”, conta.

Edson analisa também que aos poucos o mercado do ciclismo está se normalizando, mas que ainda os empresários da área continuam tendo algumas dificuldades.

“Agora nós vemos que o mercado está voltando a ‘normalidade’, e, além da pandemia, estamos enfrentando outro problema: a falta de peças e de bicicletas. Isso é o resultado do fechamento de fábricas na China e gerou um descompasso na cadeia produtiva”, diz.

Przybylski entende que a demanda por bike e acessórios vai continuar a mesma ou até maior nos próximos meses, e que só em março e abril que pode voltar a instabilidade. O empresário entende que muito disso é influenciado por conta do processo de importação.

“Infelizmente, tudo é importado praticamente. O reparo de uma bicicleta, por exemplo, precisa de muitas peças importadas e às vezes falta, mesmo não sendo nosso caso, porque trabalhamos com um estoque grande, percebemos isso”, destaca.

Edson visualiza que o ramo que ele trabalha sempre teve suas variações, e que depois da pandemia a perspectiva é que apareceram muitos novos adeptos da bike.

“Historicamente, o mercado do ciclismo sempre teve seus altos e baixos. E estamos torcendo que os interessados continuem a divulgar e desenvolver essa atividade. Porque o ciclismo ajuda em tudo, desde a saúde até a prática esportiva em si também”, finaliza.

IMPACTO
Há 10 anos trabalhando no ramo, Antonio Rosseti Neto é gerente de vendas de outra loja da área de ciclismo, em Guarapuava. Antonio afirma que de alguns meses para cá a prática dessa atividade aumentou e que muitas fábricas não estavam preparadas.

“De junho para cá, a busca pela prática do ciclismo foi impressionante. E mesmo esse público tendo aumentado significamente, a indústria não estava preparada”, explica.

Neto salienta que não só o ramo ligado diretamente ao ciclismo foi prejudicado pela pandemia, mas tudo que está ligado indiretamente a ele.

“Temos que pensar o ramo do ciclismo não só o que vem da bicicleta mesmo, mas tudo o que está ligado a ela. Por exemplo, a área de têxtil também foi atingida pela Covid-19, tanto que as empresas que eu compro não consegue me vender mais produtos para os ciclistas antes de janeiro”, conta.

O gerente de vendas compreende que o aumento pela procura por bikes teve uma forte influência pelo entendimento de que ela só traz benefícios que ajudam o ser humano.

“Eu vejo que a cultura e a cabeça do brasileiro mudaram bastante, e ele vê agora a bicicleta como um forte aliado na qualidade de vida, diminuição do estresse e um ótimo hobby. Então, a cultura do ciclismo está crescendo cada vez mais e nós vemos isso”, diz Antonio.

Letici Souza de Lima (28 anos) é uma das pessoas que resolveu, em plena pandemia, se aventurar no mundo do ciclismo (Foto: Lucas Herdt/Correio)

EXPERIÊNCIAS
A analista contábil Letici Souza de Lima (28 anos) é uma das pessoas que resolveu, em plena pandemia, se aventurar no mundo do ciclismo. Há um mês, mesmo praticando outros exercícios físicos, viu na bicicleta uma ótima oportunidade para começar mais um esporte.

“Comecei a pedalar por influência dos meus colegas de trabalho. Gosto de atividades físicas e já pratico corrida de rua há um ano, e encontrei na bike mais um esporte. No início fui por curiosidade, e, após participar de uma prova, fiquei bastante animada com o ciclismo”, destaca.

Além de trazer uma qualidade de vida melhor, disciplina e novas amizades, Lima vê que o ciclismo trouxe ainda experiências inéditas para ela.

“Significa um estilo de vida, uma vida mais saudável. A bike tem me levado a lugares da cidade que até então não conhecia, proporciona experiência incríveis e te faz superar a cada trilha”, reitera.

Já o engenheiro civil Nikolaus Farber (25 anos) pratica o ciclismo há três meses. Nikolaus decidiu começar o esporte porque foi “forçado” pelo novo coronavírus. “Eu já andava um pouco de bike, mas não tanto assim. Eu era mais adepto da academia e de outros tipos de esporte, mas por conta da pandemia eu tive que achar outra forma de me exercitar”.

Para o engenheiro civil, o ciclismo representa bem mais que um simples esporte. “Você querer fazer uma rota mais longa e em menos tempo, isso é muito gratificante. Vencer a si próprio mesmo, não ser necessariamente melhor que ninguém, mas melhor que você mesmo”, finaliza Farber.

*********Texto e reportagem: Lucas Herdt, especial para CORREIO

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