Tempo futuro: 30 anos de ‘Out of time’, do R.E.M.

O CORREIO abre as memórias da série Arquivos Culturais para falar sobre “Out of time”, disco fundamental na trajetória do R.E.M. Lançado há quase 30 anos, esse trabalho autoral levou a banda norte-americana ao mainstream total, graças a canções que se tornaram clássicos, caso de “Losing My Religion”

E lá se vão 30 anos. É estranho falar assim de um disco cujo nome é “Out of time”, ou seja, algo como “fora do tempo” em tradução livre. No mínimo, é irônico, pois um dos discos de maior sucesso comercial do R.E.M. questionava o tempo, enredando-se na memória.

Melhor: um LP dotado de sonoridade bastante peculiar para um conjunto de rock (órgão Hammond, violão, bandolim, desplugado etc.) e “à frente de seu tempo”. Como diria o crítico e historiador da literatura brasileira Alfredo Bosi, apresentava respostas diferentes às expectativas de sua época. Inclusive, em 1991, o R.E.M. se recusou a fazer turnê e a dar entrevistas para divulgar o trabalho.

É ainda mais curioso se for levar em consideração que esse trabalho lançado em 12 de março de 1991 (o sétimo de estúdio) marcava a virada na história de uma banda universitária que passou a ganhar os holofotes. Em resumo, de “fora do tempo” (universo indie) para dentro do mercado do rock.

Aliás, matéria publicada em 11 de abril de 1991 pelo jornal O Globo contextualizava a trajetória do R.E.M., destacando o temor dos fãs pela então guinada do quarteto (Michael Stipe, Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry) para o mainstream. A reportagem assinada por Tom Leão lembrava que, dois anos antes de “Out of time”, o grupo havia lançado seu primeiro disco (“Green”) por uma grande gravadora (Warner), após oito anos na independente IRS.

“Agora, com ‘Out of time’, o pânico toma conta outra vez dos fãs”, diz o texto, detalhando que o R.E.M. (sigla em inglês para o “rápido movimento dos olhos”, um estado antes do sono) estava em 1991 nas capas dos principais jornais e revistas musicais do mundo. “…Chegou ao primeiro lugar na parada inglesa, desbancando The Farm, está no top ten da parada americana pela primeira vez e se apresenta em ginásios para mais de cinco mil pessoas. Nada mal para uma banda alternativa que só era conhecida pela população universitária”.

Capa do disco lançado em 12 de março de 1991 (Foto: Reprodução)

FAIXAS
Boa parte do sucesso de “Out of time” se deve a faixas que se tornaram hits e são tocadas até hoje, caso de “Losing My Religion”, “Shiny Happy People”, Near Wild Heaven” e “Country Feedback”.

Visualmente falando, o videoclipe de “Losing My Religion” (a segunda canção do disco) é um primor de fotografia e direção de arte. Passadas quase três décadas, ainda é um audiovisual impactante. Talvez por isso tenha sido um dos grandes sucessos da MTV nos anos de 1990.

Claro que a música é um feito e tanto, pois tem um refrão inusitado e a sua base é feita no bandolim. Sem contar a longa duração de cinco minutos. Mesmo assim, fez e ainda faz sucesso.

Já “Shiny Happy People” tem um clipe mais “alegre” e simples. Um dos destaques da canção e do vídeo é a participação de Kate Pierson, da icônica banda B-52’s. A cantora empresta principalmente seu agudo para o refrão (“Shiny happy people holding hands/ Shiny happy people holding hands/Shiny happy people laughing”), alternando com o baixista Mike Mills e o vocalista Michael Stipe.

PARTICIPAÇÕES
Em termos de participações especiais, além de Kate Pierson (também em “Me in honey” e “Country feedback”), outra é o rapper KRS-1, do BDP, na faixa de abertura de “Out of time”: “Radio song”. Crítica do Globo de 1991 classificou essa canção como uma das melhores do disco.

OBRA-PRIMA
Por conta dos 26 anos de “Out of time” e de um box comemorativo, em 2017 o canal Alta Fidelidade apresentou um vídeo em que o jornalista e apresentador Luiz Felipe Carneiro classificou o disco de “obra-prima”. “Curioso porque foi o disco que, para o bem e para o mal, levou o R.E.M. ao mainstream absoluto”.

Em relação ao box, Carneiro chama atenção de uma versão em Blu-Ray que contém oito clipes produzidos a partir de faixas do disco.

STREAMING
“Out of time” está disponível nas principais plataformas de streaming, para ouvir de maneira online.

Para quem quiser ir mais a fundo na canção “Losing My Religion”, recomenda-se a série original da Netflix “Por trás daquele som”. Na primeira temporada (“Volume 1”), um dos episódios disseca a criação desse grande sucesso da banda. Inclusive, seus integrantes contam o passo a passo de seu surgimento.

Logo de cara, o vocalista Michael Stipe diz que “Losing My Religion” é um erro e de que “ela nunca deveria ter virado um single”.

*********Texto/pesquisa: Cris Nascimento, especial para CORREIO

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