Paulo Leminski, que faria 80 anos, é autor homenageado da Semana Literária Sesc

Marcado pela produção poética, Paulo Leminski, nascido em Curitiba em 24 de agosto de 1944, também enveredou por romance, novela, ensaio, conto, canção, tradução, crônica, biografia, jornalismo, reportagem, roteiros de HQs, redação de publicidade, programas de TV… ou seja, verdadeiro fazedor de cultura multimídia

O momento é leminskiano. No mês em que faria 80 anos de vida, o saudoso Paulo Leminski (falecido em 7 de junho de 1989) é motivo de homenagens a sua obra e vida.

Eventos em São Paulo e no Paraná, com música e poesia, prestam tributo a um dos maiores nomes da literatura paranaense. Ou melhor, um dos principais escritores brasileiros nos anos de 1980.

É o caso da 43ª edição da Semana Literária Sesc & Feira do Livro, cujo tema escolhido é “Poesia Em Toda Parte”, que inicia simultaneamente nesta quarta-feira (7), em Guarapuava e outras 26 cidades paranaenses. “Neste ano voltamos nossos olhos para um dos grandes mestres da palavra: Paulo Leminski. Celebramos sua vida, sua obra e sua essência poética que continua a ecoar através do tempo. Em sua efeméride de 80 anos, rendemos homenagem à sua genialidade, à capacidade de transcender fronteiras e tocar o cerne da existência com sua poesia energética e autêntica”, destacam os curadores da Semana Literária.

Marcado pela produção poética, o autor homenageado, nascido em Curitiba em 24 de agosto de 1944, também enveredou por romance, novela, ensaio, conto, canção, tradução, crônica, biografia, jornalismo, reportagem, roteiros de HQs, redação de publicidade, programas de TV… ou seja, verdadeiro fazedor de cultura multimídia numa época em que não se usavam essas expressões.

Em vida, o “bandido que sabia latim” conseguiu se inscrever nos círculos literários do Paraná e do país, alcançando vendagens acima da média para seus livros de poesia e a gravação de canções por figuras como Caetano Veloso e Guilherme Arantes, além da parceria com bandas do porte da Blindagem e A Cor do Som. Mas sob o olhar torto de parte da crítica, principalmente após sua morte.

“Para horror dos seus detratores, Leminski desconstruiu o dito de que poeta bom é poeta morto. Cometeu o pecado de ser um poeta conhecido e reconhecido ainda em vida. Ele tinha 39 anos quando, em 1983, ‘Caprichos e relaxos’, que reuniu sua obra até aquele momento, vendeu cinco mil exemplares em vinte dias. Quinze mil em dois anos, em três edições sucessivas. Um fenômeno, no contexto do mercado livreiro brasileiro”, escreve o escritor, compositor e jornalista londrinense Rodrigo Garcia Lopes em “Roteiro literário Paulo Leminski” (2018), uma publicação da Biblioteca Pública do Paraná.

Convidado confirmado da Semana Literária, Lopes destaca ainda que “Toda poesia” (2013), que reúne a obra poética leminskiana lançada no formato de livro, virou fenômeno editorial, sendo responsável por colocar a poesia brasileira nas listas dos mais vendidos, desbancando best-sellers da época. Também foi eleito o livro do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Outros “cases” de sucesso atrelados ao universo de Leminski são a biografia escrita por Toninho Vaz, “O bandido que sabia latim” (2001); e a exposição itinerante “Múltiplo Leminski”. Ambos mobilizaram uma legião de leitores e leitoras.

FASCÍNIO
Segundo o londrinense, o fascínio pela poesia e obra do autor homenageado na Semana Literária Sesc vem de sua qualidade literária e do projeto de se aproximar do leitor comum, não se restringindo apenas ao olhar dos especialistas (críticos e seus pares). “[Leminski] Não escreveu uma poesia de dicionário, que não diz nada, fechada em si mesma. Enquanto poetas, seja por atitude burguesa ou por puro elitismo, acabam se distanciando do leitor, Leminski buscava o contato”, diz Lopes no livro.

Ao longo de “Roteiro literário Paulo Leminski”, o autor traça a trajetória de Leminski no mundo das letras e da comunicação, defendendo que não era apenas o “poeta do trocadilho”, como os críticos preguiçosos costumam apontar. Segundo Lopes, o curitibano tinha “altíssima voltagem poética” no ponto alto de sua produção, quando fez “pedras-de-toque da poesia brasileira” recente; meteoros, peças antológicas. Havia uma dicção própria, conforme o jornalista, marcada pelo rigor, concisão, ritmo e liberdade da linguagem.

“Verdadeiros poemas, seres de linguagem, nestas peças forma e conteúdo estão em perfeita simbiose. Poemas diretos, que enfeitiçam e mobilizam o leitor por inteiro: inteligência, emoção, sensibilidade, memória, cultura, intuição e o fino humor”, afirma Lopes, referindo-se a poemas listados em “Toda poesia”.

O jornalista admite que a produção leminskiana é desigual. Na verdade, o próprio Leminski falava abertamente sobre isso, explicando que ninguém faz obra-prima toda segunda-feira. O curitibano pagou pelo risco de escrever sempre, o tempo todo, expondo sua obra com acertos e erros. “O fato é que mesmo em seus ‘erros’ ou momentos médios, Leminski reserva sempre uma surpresa, uma centelha de inteligência”, escreve Lopes.

“Toda poesia” (2013) reúne os livros de Leminski (Foto: Reprodução)

OBRA
Segundo Rodrigo Garcia Lopes, a produção de Paulo Leminski é formada por oito livros de poemas: “Quarenta clics em Curitiba” (com fotos de Jack Pires, em 1976), “Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase” (1980), “Polonaises” (1980), “Caprichos e relaxos” (1983), “Distraídos venceremos” (1987); e os póstumos “La vie en close” (1991), “Winterverno” (1994) e “O ex-estranho” (1996).

Já em prosa e ficção, escreveu dois romances: “Catatau” (1975) e “Agora é que são elas” (1984). Além de uma novela infantojuvenil, “Guerra dentro da gente” (1988); e um livro de contos, “Gozo fabuloso” (2004, póstumo).

Leminski também foi tradutor no Brasil de autores como John Fante, Lawrence Ferlinghetti, Petrônio, John Lennon, Samuel Beckett, James Joyce, Yukio Mishima, entre outros.

Na produção leminskiana, há três livros de ensaios: “Anseios crípticos” (1986), “Ensaios e anseios crípticos” (1997) e “Anseios crípticos 3” (2001); quatro ensaios-biografias, sobre Bashô, Cruz e Sousa, Jesus e Trótski. E mais canções, caso de “Verdura”, “Mudança de Estação”, “Valeu”, só para ficar em alguns exemplos.

EVENTO
Em Guarapuava, a Semana Literária Sesc de 2024 abre nesta quarta-feira (7), com acesso gratuito às atividades na unidade (rua Comendador Norberto, 121, Centro).

No primeiro dia, a escritora curitibana Luci Collin participará do bate-papo “Tudo é Poesia”, às 19h30, no Salão Social. Livre para todos os públicos.

Em 1984, Collin lançou seu primeiro livro, “Estarrecer” (poesia), recebido com críticas muito positivas, inclusive do autor homenageado deste ano: “Estou admirado com o nível técnico desta jovem poeta, nesta geração que pensa que qualquer coisa é poesia”, disse Paulo Leminski à época.

Em tempo, é da poeta o texto da orelha de “Roteiro literário Paulo Leminski”.