Máfia no divã: um retorno ao ‘Chefão 3’, filme lançado há 30 anos e que ganhou uma nova versão em 2020

Passados 30 anos, retornou aos cinemas e chegou ao streaming a versão editada do último filme da trilogia mafiosa de Francis Ford Coppola: “O Poderoso Chefão – Desfecho – A Morte de Michael Corleone” (2020). Entenda a trajetória acidentada do longa-metragem original de 1990

Enfim, o desfecho da saga da família Corleone no cinema está pronto e acabado (até que venha a próxima versão…). Após 30 anos, o terceiro filme da franquia “O Poderoso Chefão” retornou às salas comerciais (em São Paulo, por exemplo) e chegou ao streaming.

No entanto, não é mais o mesmo filme. A nova cópia é uma versão editada pelo próprio diretor, Francis Ford Coppola, com alteração na ordem de cenas e o final. Inclusive, mudou o nome da antiga “Parte 3” para “O Poderoso Chefão – Desfecho – A Morte de Michael Corleone”.

Segundo alguns críticos especializados, o “novo” longa-metragem ficou melhor do que o filme que estreou nos cinemas em 1990 (Estados Unidos) e 1991 (Brasil). Com Al Pacino no papel do protagonista (Michael Corleone), o último filme da trilogia de Coppola aborda o isolamento do chefão e a relação da máfia com o universo das finanças. Sem contar também a Igreja Católica.

Apesar de proporcionar ao fã ardoroso uma volta ao universo dos Corleone, após hiato de 16 anos em relação a “O Poderoso Chefão 2” (1974), o terceiro longa-metragem decepcionou. A narrativa se arrasta, com personagens sem muito brilho e poucos momentos emblemáticos. Claro, Al Pacino é Al Pacino e, portanto, sua presença vale muito, mesmo quando ele não está em seus melhores dias.

Problema mesmo é a atuação de Sofia Coppola. Hoje uma diretora brilhante, à frente de produções elogiadas pela crítica, à época do “Chefão 3” ela era uma jovem atriz que se saiu muito mal no papel de Mary Corleone, filha de Michael na trama. Do rosto sem expressão à dicção deficiente, Sofia penou, comprometendo bastante uma cena crucial na parte final do longa.

Matéria do jornal O Estado de S.Paulo de 1991 detalha a trajetória acidentada de Sofia Coppola para assumir a personagem (Foto: Reprodução)

Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, de 14 de março de 1991, a atriz escalada para fazer o papel de Mary era Winona Ryder (a Joyce Byers da série “Stranger Things”). Mas esta ficou doente e teve de sair do projeto. Com isso, Sofia foi convocada às pressas para assumir o personagem. Não teve tempo para se preparar e, ainda por cima, era uma atriz inexperiente.

Mas a crítica não quis nem saber e malhou a atuação da filha de Francis Ford Coppola. Já durante as filmagens, o diretor começou a ser acusado de favorecimento e nepotismo.

Nada disso se compararia ao que vinha depois. “Na sessão especial para a imprensa, os principais críticos dos EUA faziam comentários jocosos em voz alta e riram espalhafatosamente durante as cenas finais – nas quais a sua presença [de Sofia] é chave”, em trecho da matéria assinada por Eduardo Bueno para o Estadão de 1991.

Naquele momento, um crítico norte-americano disse que a “deselegância inexpressiva” de Sofia Coppola praticamente afundava o filme.

CONTEXTO
“O Poderoso Chefão 3” chegou aos cinemas norte-americanos cercado de expectativas em dezembro de 1990.

Segundo a edição de 2 de junho de 1990 do Estadão, o longa-metragem custou US$ 100 milhões aos estúdios de Hollywood e era uma aposta do diretor Coppola. À época, dizia-se que, em caso de fracasso, seria o fim da carreira dele.

Aliás, era o “filme que Francis Ford Coppola disse que nunca faria”. Mas acabou fazendo. A reportagem do jornal paulistano especulou em 1990 que o motivo teria sido simplesmente pelo dinheiro. “Mas Coppola não vai confessar-se a um bando de anônimos xeretando suas filmagens”, diz o texto, referindo-se aos jornalistas que participaram de uma coletiva de imprensa naquele ano.

Curioso que a ideia inicial de Coppola e Mario Puzo (coautor do roteiro) era dar o subtítulo de “A morte de Michael Corleone” ao desfecho da trilogia. O tempo se encarregou de fazer a devida justiça ao projeto inicial nessa versão editada que está no ar em 2020.

********************Texto/pesquisa: Cris Nascimento, especial para CORREIO

***********Nova versão está em cartaz nos cinemas e no streaming:

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