Escrita literária contemporânea é abordada em série de encontros online na Unicentro

Um dos autores convidados, Julián Fuks destaca que eventos como o ciclo de mesas-redondas, que reúnem escritores com estudantes de graduação e pós-graduação, permitem estabelecer novas discussões sobre a articulação entre a escrita e a reflexão literária

O projeto de extensão “Como se escreve o Contemporâneo?”, coordenado pelos professores Nilcéia Valdati e Gabriel Pinezi, do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), realizou o segundo encontro do ciclo de mesas-redondas, que teve como tema Memória e Exílio na escrita contemporânea.

A proposta, explicam, é promover a aproximação entre autores e estudantes. “É um encontro entre escritores contemporâneos de literatura brasileira ou que escrevem em português”, diz Nilceia. “Aproximar as instâncias de produção de literatura brasileira com a instância crítica, que seria o curso de Letras, a universidade e a pesquisa”, complementa Gabriel.

Essa é a primeira edição do projeto, que prevê a realização de três encontros – cada um deles com uma temática específica. “No primeiro encontro”, conta Nilceia, “a gente teve o tema ‘Horizontes Psicanalíticos’, como essa questão aparece na escrita dos autores. O segundo foi ‘Memória e Exílio’. E o terceiro encontro, que será em junho, terá como eixo central ‘A Lírica de Autoria Feminina’”.

Para a mesa-redonda “Memória e Exílio”, os convidados foram Julián Fuks e Paloma Vidal – autores que abordam o tema em seus romances “A Resistência” e “Mar Azul”. O professor Gabriel fala sobre as similaridades das obras dos autores. “Ambos são escritores que vêm de uma família que passou pelo processo de exílio, por conta da ditadura na América Latina; ambos são filhos de argentinos; e ambos escreveram romances sob o ponto de vista desses, por assim dizer, sobreviventes da ditadura, que têm que lidar com os traumas ligados ao processo de exílio”.

O livro “Mar Azul”, de Paloma Vidal, foi lançado em 2012 e conta a história de uma mulher estrangeira no início da velhice que lê os diários do pai e, no verso das páginas, faz as próprias anotações. “É um dos livros, talvez, mais ficcional. Embora ele trate desses temas que são muito próximos da minha vivência. O exílio é dessas vivências que, no meu caso, definem o que eu escrevo e o que eu sou”, compartilha a autora.

Já a obra “A Resistência”, de Julián Fuks, lançada em 2015 e vencedora de diversos prêmios de literatura, versa sobre o processo de adoção do irmão do autor em meio à fuga de seus pais da Argentina, motivada pela ditadura militar, e a chegada ao Brasil. “A gente falou bastante sobre exílio e literatura, sobre a forma de pensar uma escrita do passado, sobre a maneira de conceber, literariamente, a memória. Também, politicamente, refletir o aspecto, a questão das políticas de memória que são tão fundamentais em nosso país de origem – meu e da Paloma – que é a Argentina, mas que se fazem cada vez mais urgentes também no Brasil. Foi uma boa oportunidade de ver como se articulam as questões literárias com as questões, sociais, culturais e políticas”, avalia Fucks sobre sua participação no encontro.

Julián destaca que eventos como o ciclo de mesas-redondas, que reúnem escritores com estudantes de graduação e pós-graduação, permitem estabelecer novas discussões sobre a articulação entre a escrita e a reflexão literária. “Para mim, a literatura já se fez muito mais dialógica. Se constrói não na solidão do escritor, na sua própria casa, encastelado, mas sim em uma instância de diálogo e debate, de troca de ideias. Então, gosto muito dessas ocasiões e essa não foi diferente. Foi, realmente, uma circunstância enriquecedora pra mim”.

Para o professor Gabriel e para a professora Nilcéia, colocar autores e estudantes em contato é uma oportunidade para ampliar as reflexões e contribuir com as pesquisas acerca de temas importantes na literatura. “Aproximar esses dois âmbitos torna a pesquisa mais importante, mais acurada. Uma pesquisa que pode, realmente, entrar em contato com esses autores e descobrir um pouco mais sobre como a literatura funciona. Também fazer com que os escritores entendam melhor quais são as críticas, os métodos e os meios de leitura que nós, aqui na universidade, usamos para interpretar as obras deles”, afirma ele. “O que eu tenho percebido é uma coisa muito positiva de aproximação entre os alunos e os escritores, o que permite a discussão de muitos temas importantes que envolvem a literatura contemporânea”, finaliza Nilceia.

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