‘Eu quero cantar até o fim’ – Elza Soares (1930-2022)

Eleita a Voz do Milênio, a cantora Elza Soares morreu nesta quinta-feira (20), aos 91 anos de idade, em sua casa, no Rio de Janeiro, de causas naturais. Até os últimos dias de vida, ela trabalhou no meio musical

“Cantar
Eu quero cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Até o fim eu vou cantar
Eu vou cantar até o fim
Eu sou mulher do fim do mundo
Eu vou, eu vou, eu vou cantar, me deixem cantar até o fim”.

Estes versos fazem parte da canção “Mulher do Fim do Mundo”, uma das faixas de “A Mulher do Fim do Mundo”, aclamado álbum de 2015 gravado por Elza Soares, a cantora eleita como a Voz do Milênio. Ela morreu nesta quinta-feira (20 janeiro), aos 91 anos de idade, em sua casa, no Rio de Janeiro, de causas naturais.

Até o fim da vida, Elza se manteve ativa, provando que ainda tinha muita lenha para queimar a despeito de ser uma nonagenária. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a cantora gravou um DVD de memórias dois dias antes do falecimento. Ela deixou também dois documentários sobre sua vida e obra, além de um disco de inéditas sobre a crise política brasileira.

O primeiro lançamento será o DVD. Previsto para março, é uma coletânea dos maiores sucessos da carreira de Elza. Ao todo, 16 músicas fizeram parte do repertório das gravações, que ocorreram entre segunda e terça-feira no Theatro Municipal de São Paulo.

Sem contar que, segundo o perfil oficial de Elza nas redes sociais, a agenda de shows marcava sua volta aos palcos a partir de fevereiro. A artista tinha viagem marcada para o Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná (em Curitiba) e Minas Gerais.

Tudo isso só confirma a vitalidade de uma intérprete que nunca se acomodou. Mesmo com toda uma história consagrada no samba, ela se arriscou e renovou seu repertório a partir de “A Mulher do Fim do Mundo” (Circus, 2015), seu primeiro disco de inéditas, e seguiu por “Deus é Mulher” (Deckdisc, 2018) e “Planeta Fome” (Deckdisc, 2019). Sem medo de errar, são verdadeiras obras-primas da música contemporânea.

Essa trilogia é fruto da parceria com compositores e produtores da nova geração de São Paulo, como é o caso de Guilherme Kastrup e Rômulo Fróes.

Por exemplo, as 11 canções de “A Mulher do Fim do Mundo” misturam gêneros musicais como o samba, rock, rap e eletrônica, e temáticas atuais como violência doméstica, sofrimento urbano, transexualidade e negritude. O sucesso e grande repercussão desse álbum foram considerados um “renascimento” e “início de uma nova fase na carreira da já consagrada cantora” por críticos musicais. E o álbum ainda ganhou o Grammy Latino 2016 na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.

Já “Deus é Mulher” foi eleito o 2º melhor disco brasileiro de 2018 pela revista Rolling Stone Brasil e um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre de 2018 pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

E “Planeta Fome”, lançado em 13 de setembro de 2019, foi eleito um dos 25 melhores álbuns brasileiros do segundo semestre de 2019 pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

CARREIRA
Elza Soares deixa uma discografia extensa, com mais de três dezenas de discos, que combina com sua importância na música brasileira e mundial.

Eleita como a Voz do Milênio em uma votação feita na rádio BBC de Londres em 1999, a cantora nascida em 1930 trabalhava como encaixotadora e conferente em uma fábrica de sabão quando fez um teste na rádio Tupi em 1953. Foi só em 1959, no entanto, que ela despontou com sua primeira gravação, “Se acaso você chegasse”, que daria nome ao seu primeiro disco, lançado em 1960.

Depois disso vieram sucessos como “Malandro” e “A Carne”, além de inúmeros sambas gravados e um renascimento artístico a partir de 2015, quando ela gravou “A Mulher do Fim do Mundo”.

Mais recentemente, em dezembro do ano passado, a artista lançou “Elza Soares & João de Aquino”, guardada desde os anos de 1990. Foi seu último disco.

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