Constatações, apenas isto

“Vejo também pouca influência de grandes lideranças na eleição municipal, leia-se ‘Presidente da República’, ‘Governador’, ‘Prefeito’ e ‘Deputados Federais e Estaduais’”

Teremos reprovações nestas eleições. Muitos atores políticos vigentes ficarão muito abaixo da média. O eleitor sinaliza uma nova lógica eleitoral que desconsidera ‘discursos’ que insistem na tese de que nossa cidade ‘vai muito bem obrigado’. Sabe-se que existem várias cidades nesta cidade e a aposta está mais em uma gestão que considere ‘você’ enquanto indivíduo e a ‘coletividade’ enquanto cidadão.

Em período de crise, as teses do cuidado individual e da defesa de políticas públicas mais solidárias conseguirão atrair um eleitorado maior, ‘pessoas comuns’, quase sempre distantes do centro e de áreas nobres e mais próximas da marginalização e da periferia, materialmente e imaterialmente.

Reinterpretando Maquiavel, posso afirmar que o cenário está propício para o encaixe de suas velhas teses, a saber: as circunstâncias favoráveis, a liderança em si e a coragem para fazer o que tem que ser feito (neste ambiente não há ingenuidade, nem amadorismo).

O quesito ‘liderança em si’ tem sido o ‘calcanhar de Aquiles’ e o ‘arco-íris’ para outros.

O Florentino dizia que o sucesso político é garantido pela conjunção destes três fatores, mas em tempos de excepcionalidade, dois destes fatores podem garantir êxito. É o que parece que vai acontecer. Como dizia um amigo de longa data: ‘entendedores entenderão, negadores negarão’.

Para não cometer nenhuma heresia, adianto, esta tem sido a minha percepção, apenas isto. Não é a minha verdade, é apenas minha constatação sobre os fenômenos de satisfação e insatisfação das pessoas.

O número expressivo de novíssimas candidaturas à Câmara Municipal e o alargamento de novas siglas partidárias sem coligações tem potencial para tirar dos candidatos monumentos a chance de uma fácil reeleição. Se isto não ocorrer, será mais pela distribuição de renda pré-eleitoral do que outra coisa.

Vejo também pouca influência de grandes lideranças na eleição municipal, leia-se ‘Presidente da República’, ‘Governador’, ‘Prefeito’ e ‘Deputados Federais e Estaduais’. A eleição está mais a varejo que atacado. O excesso deste medicamento tem causado mais efeitos colaterais do que propriamente a cura.

A micropolítica tem falado mais alto. O eleitor, apesar de estar ainda em ‘estágio de polarização’, parece estar mais ‘escolado’ com os discursos que foram construídos sobre a velha e a nova política nas últimas eleições e tende a votar em preferências pessoais e naqueles que demonstram maior empatia e sinceridade. Dá-se a impressão que as redes sociais conseguiram resolver um problema estrutural de outras eleições que é a mágica de passar ‘um olho a olho’ e uma ‘conversa de maior pessoalidade’ que parece estar fazendo a diferença. Este fetiche tem potencialidade para blindar o eleitor da hipocrisia e de falácias artificiais que em outros tempos foram bem-sucedidas.

Alguns candidatos estão convencendo, outros apenas persuadindo. A diferença não é pequena. O mundo de hoje parece ser igualzinho ao de ontem, mas não é. Estamos diante de novos fenômenos de satisfação e insatisfação humana. Há novas regras, novas referências e novas socializações que foram captadas mais por alguns do que outros.

Na obtenção de sucesso eleitoral, os cientistas políticos têm considerado a percepção do risco, ou seja, qual é a percepção do risco envolvido; a complexidade da fala do (a) candidato (a), se a mesma traz informações muito complexas, difíceis, espalhadas e sem uma ideia clara e a menina dos olhos desta eleição, a novidade.

Disparadamente, dos três fatores, a grande sacada é a novidade.

Por incrível que parece, vejo isto por aqui. Vejo candidatos e candidatas em vantagem junto ao eleitor por explorar estes três fatores com mais ênfase que outros. Posso estar errado, mas sinto que não.

*******Claudio Andrade é doutor em História e Sociedade pela Unesp e professor associado do Departamento de Filosofia da Unicentro; pós-doutorando de Filosofia Política pela Universidade de Coimbra – Portugal. Assessor da Rede de Assessores do Cefep/CNBB e presidente da Academia de Letras, Artes e Ciência de Guarapuava

Deixe um comentário