Vampira criada por Emir Ribeiro completará 40 anos em novembro
As histórias de Michèlle se destacam na produção brasileira de quadrinhos de terror. A personagem é uma criação do paraibano Emir Ribeiro, que fala com exclusividade ao CORREIO sobre a vampira
Francesa, mordida pelo conde Drácula em pessoa e perdida no Brasil do século 16. Há quase 40 anos, a trajetória acidental da jovem Michèlle Báts tem seduzido os leitores brasileiros. Em novembro de 1977, a vampira dava os seus primeiros passos nas tiras de um jornal na Paraíba, protagonizando a série Histórias de Vampiros.
Naquela época, seu criador, Emir Ribeiro, era um jovem quadrinista cheio de ideias e obcecado pelas formas femininas. Passado todo esse tempo, Emir é conhecido nacionalmente hoje pela criação de vários personagens: Velta (a loura-detetive), Nova, Itabira, Garota de Borracha, Fátima (a mutante), O Cangaceiro, entre outros; mas com grande predileção pelas mulheres fortes, atraentes e decididas.
Nessa galeria, Michèlle tem um espaço especial, já que se trata do primeiro personagem de terror no universo de histórias do paraibano. Foi a primeira e única personagem da linha de terror, ou seja, em um universo próprio e diferente do universo da Velta (no qual não existe o sobrenatural). Mas, tal como a loura-detetive, Michèlle foi de encontro à censura exacerbada da época, além do que era estabelecido pelo mercado de quadrinhos, onde a quase totalidade dos personagens protagonistas eram homens, diz Emir, em entrevista exclusiva ao CORREIO.
Aliás, a vampira francesa tem um percurso curioso nas histórias tradicionais de terror produzidas no Brasil. Sendo um elemento estrangeiro (oriunda da França), Michèlle causa certo estranhamento e tensão em uma colônia portuguesa dominada pelo autoritarismo. Sem contar o fato de que Emir inicia a produção das histórias da vampira numa época de ditadura civil-militar no país.
Uma das diretrizes que me guiava no tempo da Michèlle e da Velta era a de sempre tentar fazer o oposto ao que era ditado tanto pelas publicações dominantes, como causar um choque nos pudores exagerados impostos. Aliás, eu procurei manter essa linha de criação mesmo nos anos subsequentes.
Além de francesa, Michèlle também tem dupla personalidade: doce e meiga na sua forma humana; e cruel e sanguinolenta quando se transforma em morta-viva.
NU
Quase sempre nua, ela utiliza suas belas formas femininas para seduzir os homens e sugar seu sangue. Um desafio para o conservadorismo dos leitores e para a censura à época da ditadura.
Michèlle era publicada em ‘A União’, um jornal pertencente ao governo do estado. Pelo fato de atingir um público variado, eu tinha o cuidado de não deixar tão evidente as cenas de sexo (afinal, alguma criança poderia pegar o jornal para ler). Seios e bunda eram o máximo mostrado. Talvez por isso, a censura militar nunca me incomodou, explica o quadrinista.
De maneira geral, as protagonistas nas histórias de Emir têm corpos esculturais e alta energia erótica. Mas o autor não as exibe somente como pedaços de carne para os leitores masculinos, pois Velta, Nova, Garota de Borracha e Michèlle têm personalidade própria e liderança.
Emir explica que, nos anos de 1970, quando essas personagens foram criadas, as bancas eram dominadas por gibis em que a mulher era relegada ao segundo plano. Por isso, ele optou pelo protagonismo feminino em suas criações.
GIBI
Após as tiras de jornal, Michèlle ganhou posteriormente edições no formato de histórias sequências em revistas especiais. Essa transposição possibilitou a Emir Ribeiro explorar novos aspectos de sua personagem em aventuras de maior fôlego e com outro público.
Quando Michèlle ganhou novos ares nos gibis, já havia uma diminuição considerável da interferência censora, e por isso, pude ousar mais nas cenas. Com relação aos roteiros, procurei imprimir um nível maior de detalhamento, explorando mais linguagem e temas adultos.
Atualmente, os leitores têm à disposição dois livros independentes com material da personagem: uma edição de 2013 da Waz (São Paulo) e outra de 2015, da Atomic (RS/SC). Ambas podem ser encontradas em lojas virtuais.
Por enquanto, Emir não pretende lançar material inédito de Michèlle. Possivelmente em 2019, dando continuidade aos eventos mostrados no gibi da Atomic.
NOVIDADES
Em 2018, a loura-detetive Velta completará 45 anos desde a sua criação. O quadrinista paraibano já avisou que pretende lançar ao menos dois volumes comemorativos. Uma das edições fará homenagem à vampira Naiara, a filha do Drácula, da extinta editora Taika. O roteiro ficará a cargo de R. F. Lucchetti, lenda vida dos pulps brasileiros.
Ainda sem data de lançamento, tenho pronto para impressão um livro contando os bastidores da produção dos meus quadrinhos, tanto em jornais como em edições independentes, inclusive reproduzindo HQs da época.
Para mais informações sobre o universo de Emir, acesse seu site oficial.