Sobre a seleção de crianças para a continuidade da maldade humana!

Em resenha, colunista do CORREIO analisa livro sobre a Sociedade Lebensborn

Esse é um assunto pesado. Até mesmo na Alemanha há pouco tempo não se falava muito sobre ele: As crianças criadas no programa Lebensborn.

As mães grávidas eram levadas para uma das várias casas do programa Lebensborn para que tivessem seus filhos. Mas não era qualquer mulher que podia estar lá. Apenas as de raça pura, que estivessem grávidas de arianos. Depois as crianças seguiam para outras famílias, também arianos para que pudessem ser a família perfeita. Dessa forma acreditava-se que seria rápida a disseminação da raça.

Heinrich Himmler era o responsável pela Sociedade Lebensborn, como eram chamadas essas casas que acolhiam as jovens.

Eu criei as casas Lebensborn porque não acho correto que uma moça que tenha a falta de sorte de engravidar fora do casamento seja maltratada por todo mundo.

Ingrid von Oelhafen conta que não entendia como Himmler conseguia ser o comandante da SS e se inteirar totalmente do programa Lebenborn.

O programa defendia que se pudesse ter filhos ilegítimos para dar continuidade ao que acreditavam ser a raça pura. Mas logo que perceberam que tudo ia muito devagar – para os padrões exigidos –, passaram a sequestrar crianças de outros países que já tinham sido invadidos. Outro procedimento nazista que demonstra frieza e a insignificância da vida humana.

Quando era pequena, numa consulta médica, Ingrid ouviu um nome ser chamado, Erika Matko, e seu pai se levantou e a levou para dentro do consultório. A menina ficou confusa.

Durante muitos anos, Ingrid tentou descobrir sua origem e As crianças esquecidas de Hiltes – A verdadeira história do programa Lebensborn (Hitler’s forgotten children: a true story os the Lebensborn Program, Editora Contexto, 240 páginas) fala dessa sua busca, de suas frustrações pelas poucas informações e ajuda que conseguia. Mesmo os órgãos que poderiam ajudá-la, dificultavam.

Para mim era difícil absorver – quanto mais compreender – essa história. Dediquei minha vida a crianças deficientes. Vi a alegria que meu trabalho provocava nelas e nos pais. Senti o amor que transborda quando ajudamos crianças como Jürgen a superar a deficiência, que tipo de burocrata desumano aniquilaria com essa facilidade uma vida tão preciosa?

Jürgen foi deixado num canto sem comida e sem cuidados para que morresse. Ele era deficiente. Tinha 6 meses. Talvez haja um paralelo com a atualidade a ser feito, onde o egoísmo se mostra tão presente e defendido.

O escritor Tim Tate ajudou Ingrid a escrever suas memórias, e consegue passar toda a tristeza dessa mulher que de repente se viu sem chão, sem raízes. A história de Ingrid é uma das muitas que envolvem esse terrível passado que se faz presente até hoje na vida de muitas pessoas.

 

*********Heidi Gisele Borges é autora dos livros juvenis O menino que perdeu a magia e Um segredo de Natal e de diversos contos de horror sob o nome Celly Borges. Escreve resenhas também na revista Mestres do Terror, no jornal Em Foco, de Brusque (SC), e no site becodonunca.com.br.