O movimento cadenciado da industrialização em Guarapuava

Com influências nos movimentos industriais, conflitos mundiais e avanços no globo, Guarapuava manteve-se economicamente estável por muito tempo, tendo diversos processos de produção como influentes nos cofres locais

Foi na Rua Larga que os movimentos de Guarapuava começavam. A tradição segue vigente hoje na chamada XV de Novembro. Palco do comércio e interações sociais, a área central era efervescente, acompanhando o movimento industrial da década de 1950.

Neste período, Murilo Walter Teixeira tinha 13 anos. Hoje, com 82, o cirurgião dentista aposentado segue como guardião da memória, preservando o patrimônio histórico mantido pelo pai Benjamin. Com base em diversos estudos, aprofundou-se para compreender como foram os processos industriais que deram dinamicidade ao local.

SERRARIAS

O barulho das serrarias chamava a atenção do então menino, quando os caminhões FeNeMê, vindos antes das construções de ferrovias, já faziam o transporte de toda a carga. Nós tivemos, em 1948, a construção da primeira estrada, que permitiu a produção de madeira e consequentemente o aumento da população. Os trabalhadores vinham de diferentes lugares, e com isso a economia já começava a se transformar, relembra Murilo. 

Vinda seis anos depois, a construção da ferrovia que possibilitava o transporte de trem não trouxe tanto impacto para a população local, que já estava acostumada com o constante processo de exportação. Boa parte da madeira utilizada para a construção de Brasília era guarapuavana, diz o estudioso. Eram as serrarias as responsáveis por todo o material de escolas, moinhos e igrejas, e as caldeiras funcionavam a todo vapor.

COMUNIDADE

A população de operários vindos para a construção da longa estrada de ferro também formava pequenos vilarejos. Mas, na falta de controle dos locais, eram os gerentes serralheiros que lideravam as comunidades; eles que davam conta de brigas familiares e vizinhos, organizando toda a estrutura comunitária.

EMPREGOS

Com o ritmo das caldeiras, novos empregos foram originados: o boom industrial foi capaz de trazer mecânicas, comércios de peças e estruturas que auxiliavam no progresso. Hoje, Murilo faz comparações entre os dois momentos, e afirma que talvez faltasse cinismo por parte dos comerciantes para que desenvolvessem novos empreendimentos. 

Agora, você consegue ver lojas grandes se instalando na cidade, principalmente lojas de construção, porque a gente consegue pensar melhor no futuro e em novos jeitos de movimentar a economia, dar esse dinamismo.

Outra comparação feita por Teixeira tem relação com as formas de interações sociais. Antigamente, os jovens de classe média eram frequentadores dos clubes sociais [Guaíra, Cruzeiro, Operários, Rio Branco e Aqueronte]. Era lá onde dançavam, se divertiam e namoravam. Agora, nós temos a estrutura de shoppings, que naquela época não pensariam em um empreendimento assim.

CICLOS

Além da mão de obra serralheira, movimentos como a pecuária e construção de armazéns foram necessários para o avanço econômico local. O artesanato também era visto como empreendimento importante, já que era por meio das mãos de alfaiates que se originaram os ternos para reuniões e encontros sociais.

Todos os processos econômicos, para Murilo, foram significativos ao município construído atualmente. O processo de globalização foi responsável pelo encurtamento das distâncias, possibilitando, assim, que o comércio fosse alterado. Agora não temos balcões nas lojas, parte das empresas familiares já não são mantidas, e por isso que é tão notável o ritmo que o desenvolvimento teve com o passar dos anos, finaliza.