Mazzaropi: um caipira muito sabido!

Morto em 1981, Amácio Mazzaropi sempre será lembrado pelo humor caipira e forte apelo popular. Mas ele também tinha tino empresarial ao produzir e distribuir seus próprios filmes, sendo dono das maiores bilheterias do cinema nacional

De matuto, Amácio Mazzaropi (1912-1981) não tinha nada. Ou melhor, o famoso personagem do caipira (ou Jeca Tatu); mas apenas no universo ficcional do cinema. No mundo real, o velho Mazza era dotado de tino para o negócio e foi um dos maiores empresários da Sétima Arte no Brasil.

Ator, roteirista e produtor, ele fez a alegria das plateias entre os anos de 1950 e 1980, quando seus mais de 30 filmes circularam Brasil afora. Sem contar o universo circense, onde ele se sentia mais à vontade, segundo o seu filho de coração André Luiz Mazzaropi. A grande paixão de meu pai não era o cinema. Era um grande negócio. Mas a grande paixão da vida dele era fazer show de circo, explica André, em entrevista concedida ao CORREIO em 2015.

Aliás, há três anos o filho de Mazzaropi havia retornado a Guarapuava, após um hiato de quatro décadas. Em 1977, ele e seu pai passaram pela terra do lobo bravo para se apresentar num circo, durante as turnês que correram todo o Paraná. André explicou que, no passado, era mais comum os artistas se apresentarem sob a lona, pois eram raros os teatros pelo país.

Até a morte de Mazza, seu filho recorda que foram 901 shows ao lado do pai. Em 2015, André esteve em Guarapuava para apresentar o espetáculo de humor Tem um jeca na cidade.

CAIPIRA

Na telona do cinema, invariavelmente os filmes de Mazzaropi traziam o universo do caipira paulista, seja na caracterização (roupas, jeito etc.) ou na temática ingênua. Obras como Jeca Tatu (1959) popularizaram o nome do empreendedor.

Segundo André, o segredo de sucesso de seu pai era a identificação do público com raízes no universo do Jeca. Ele [Mazzaropi] fazia algo que estava na alma das pessoas. Ele fazia algo que era a língua do povo.

André 'Mazzaropi' corre o Brasil em homenagem a seu pai (Ronaldo H. San)

BILHETERIA

Atento ao momento, Mazza criou em 1958 a Produções Amácio Mazzaropi (PAM Filmes), que serviu não apenas para produzir suas fitas, mas também para distribuir o material em todo o Brasil. Dali em diante, o empreendedor incrementou suas produções e adquiriu uma fazenda como locação das histórias. Era uma espécie de Hollywood caipira, com gravações em série e mesmo elenco.

Só os filmes dele [fase PAM], meu pai levou, entre 1958 e 1981, 206 milhões de pessoas, quando o Brasil tinha 70 milhões de habitantes, informando que havia 11.648 salas de exibição naquela época.

A estimativa não-oficial é de que Jeca Tatu e Casinha pequenina (1963), os maiores sucessos de Mazzaropi, venderam oito milhões de ingressos cada.

Inclusive, André conta que seu pai naquela época selecionava artistas da região de São Paulo para dar formação de ator e utilizá-los em seus longas-metragens. E com ele nasceram Tarcísio Meira, Luís Gustavo, Ewerton de Castro, Denise Del Vecchio….

Um dos personagens famosos era o tipo caipira do Jeca Tatu (Reprodução)

FILIAÇÃO

André Mazzaropi explicou que seu pai não teve filhos naturais. Mas, ao longo de uma vida de 69 anos, Mazza criou cinco pessoas como se fossem sua prole, caso do próprio André. Em 2012, esse herdeiro do humor caipira fez um filme, O filho do Jeca, em homenagem a seu pai.

Eu cuidei do Amácio nos últimos dez anos de vida dele, afirmou André, acrescentando que seu pai teve câncer de medula óssea.

No universo de filmes, o filho trabalhou como produtor de Jeca contra o Capeta (1975); e atuou em Jecão, um Fofoqueiro no Céu (1977), O Jeca e seu Filho Preto (1978), A Banda das Velhas Virgens (1979) e O Jeca e a Égua Milagrosa (1980).

Aliás, André conta que seu pai tinha o projeto de filmar Kojeca com Telly Savalas, ator imortalizado no papel do famoso detetive Kojack. Mas ficou apenas no plano das ideias.

DOCUMENTÁRIO

Dirigido e roteirizado por Celso Sabadin, o documentário Mazzaropi (2013) se apoia em depoimentos de atores e diretores que trabalharam nos filmes do artista.

O filme revela que Mazza foi capaz de mudar os parâmetros econômicos do cinema de seu país. Além de ter produzido 21 de seus longas, ele mesmo distribuía seus filmes e mandava funcionários de confiança viajaram o país, transportando as cópias e conferindo borderôs dos ingressos vendidos.