Guarapuava vive ‘revolta da vacina’ moderna

Em pleno século 21, as fake news disseminadas em aplicativos para smartphone e nas redes sociais da internet tomaram o lugar ‘privilegiado’ da ignorância de 100 anos atrás

No início do século 20, um movimento no Rio de Janeiro ficou conhecido como Revolta da Vacina. Naquela época, ocorreram vários conflitos urbanos violentos entre populares e forças do governo. A principal causa foi a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, realizada pelo governo brasileiro.

A grande maioria da população, formada por pessoas pobres e desinformadas, não conhecia o funcionamento de uma vacina e seus efeitos positivos.

Em pleno século 21, as fake news (notícias falsas) disseminadas em aplicativos para smartphone e nas redes sociais da internet tomaram o lugar privilegiado da ignorância de 100 anos atrás. A versão moderna da revolta da vacina está travestida de pais supostamente inteligentes que negam, por exemplo, as doses necessárias para o fortalecimento do organismo de seus filhos.

Segundo a chefe do departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Chayane Andrade, existe um movimento nacional de repúdio às vacinas que atingiu Guarapuava.

Na avaliação da especialista, a falta de conhecimento e a proliferação de fake news têm sido danoso para as campanhas de vacinação. Geralmente, são pais que acham que ter filhos bem nutridos e saudáveis é o bastante para se prevenir contra doenças, privando sua prole das doses recomendadas.

Se a gente não tem vacina, acaba sendo suscetível a adquirir uma patologia, avalia Andrade. Ela diz que toda vacina tem bactérias, vírus que são injetados no organismo para criar anticorpos e imunizar o corpo. Mas é uma quantidade preconizada, certa, estudada.

CASOS

Sem contar que esse público contrário às vacinas é formado por adultos que sempre foram imunizados pelos seus pais quando eram crianças. Ou seja, estão imunes e nunca viram casos de sarampo, pólio ou coqueluche. Nesse contexto, os adultos de hoje não têm noção exata do que é lidar com doenças que estavam erradicadas, mas que voltaram com força nos últimos meses.

É o caso do sarampo, com registro em regiões como São Paulo. Guarapuava ainda não teve, felizmente, notificações. Mas uma criança oriunda de área de risco visitou a cidade e despertou suspeita das equipes de saúde. Nos exames laboratoriais, foi confirmada que era outra doença.

Segundo Chayane Andrade, o episódio serviu de alerta. Guarapuava, por enquanto, não tem casos. Mas não é uma ilha, frisando que o trânsito de pessoas torna o município suscetível a doenças ou surtos.

GRIPE

Prorrogada por várias vezes em 2018, a campanha nacional de vacinação contra a gripe não conseguiu atingir o público-alvo em Guarapuava.

Com isso, o município registrou cinco casos de óbitos cuja origem se deve à infecção de Influenza A (H3N2). As pessoas que acabaram falecendo não tomaram a vacina, alerta Andrade, destacando que essas mortes atingiram a população que estava nos grupos de risco e que não recebeu a imunização por opção individual.

Chefe do departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde

CAMPANHAS

Por isso, é importante que a população participe das campanhas de vacinação. Até o dia 31 de agosto, crianças que tenham entre 1 ano e 4 anos 11 meses e 29 dias de idade podem tomar a vacina contra sarampo e poliomielite.

Até agora, foram vacinadas cerca de mil crianças. As doses estão disponíveis em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde), exceto nas urgências. O horário de atendimento das UBSs é de segunda a sexta-feira, das 8 às 12h e das 13 às 17h.

Para se vacinar os pais ou responsáveis devem apresentar o Cartão do SUS, juntamente com a carteirinha de vacinação da criança.

DIA D

Neste sábado (18), a Secretária de Saúde intensifica a campanha com o dia D. A ação será realizada em todas as UBSs, exceto a UBS Feroz, Rio das Pedras e nas urgências da cidade.

A ação tem como objetivo incentivar os pais a vacinarem seus filhos. O horário de atendimento será das 8 às 17h.