Estão sendo os piores anos da minha vida, diz irmã de Saulo Felipin
Em suas alegações finais, o Ministério Público (MP-PR) entendeu que o policial cometeu homicídio culposo, ou seja, sem intenção de matar, quando atirou contra o jovem turvense em 2016; manifestação pede que o réu seja julgado por júri popular
A família do jovem turvense Saulo Filipin Prestes, que foi morto pelo policial militar Toni Silvério Muniz Júnior há mais de três anos, organizou nesta quarta-feira (18) uma manifestação em frente ao Fórum Desembargador Ernani Guarita Cartaxo, em Guarapuava.
A ação buscou, principalmente, jogar luz à decisão do Ministério Público (MP-PR) de desqualificar o delito e considerar o caso como um homicídio culposo – quando não há intenção de matar. Dessa forma, caso o juiz Adriano Scussiatto Eyng tenha o mesmo entendimento, o réu seja julgado pela Justiça Militar.
O advogado Marinaldo Rattes, que representa a família de Saulo, afirmou que essa decisão foi recebida com estranhamento, e que irá pleitear nas alegações finais que seja mantida a denúncia pelo dolo cometido.
A defesa entende há muito tempo que o homicídio é doloso, que foi praticado com intenção de matar, porque ele teria outros recursos para evitar o desfecho fatal, afirmou Rattes, ressaltando que espera que o PM vá ao Tribunal do Júri e seja julgado pela sociedade guarapuavana.
Em entrevista à reportagem, Laís Filipin Prestes, irmã de Saulo, disse que a família soube da notícia com muita tristeza, decepção e indignação, porque o MP já havia considerado o dolo na denúncia inicial. Esperamos sensibilizar a justiça, demonstrando a nossa indignação publicamente, não só a dos familiares, mas de todos os amigos e pessoas de Turvo, referindo-se à manifestação realizada em frente ao fórum.
O sentimento é de muita revolta e indignação, caso seja mantido e venha o caso a ser considerado apenas homicídio culposo, não sendo submetido a júri popular, ressaltou Laís.
INDIGNAÇÃO
Durante a manifestação, Lorete Filipin, mãe de Saulo, afirmou que toda a região de Turvo foi afetada pela morte do jovem. Ele matou o Saulo, mas várias famílias estão sofrendo com isso. Queremos justiça, que ele pague pelo que fez, disse.
Nesse momento, de acordo com Lorete, a expectativa é que o MP recue da sua decisão e considere o caso como um homicídio doloso. É muita indignação o que o Ministério Público fez. Eu acho um absurdo o que estão fazendo, afirmou, acrescentando que os familiares confiam no trabalho do juiz responsável.
ENTENDA
Saulo foi morto na madrugada do dia 23 de julho de 2016, na rua Dr. Otto Rickli, na região central de Turvo (a pouco mais de 40 km de Guarapuava). Ele conduzia um VW/Gol quando foi alvejado por um disparo de arma de fogo.
De acordo com o policial militar, em seu depoimento, o jovem estava realizando manobras perigosas na rua e deslocou-se de ré, subindo pela via, e seguiu por 30 metros na direção do destacamento da PM. Toni afirmou que o veículo estava indo em sua direção quando sacou a arma de deu voz de abordagem, porém, o condutor no veículo não acatou à ordem policial e continuou acelerando em sua direção.
Na sequência, o agente descreveu que efetuou um disparo em direção ao chão, e que quando olhou, o carro já estava muito próximo, tendo somente a reação de levantar a perna esquerda, atingindo a extremidade do automóvel e sendo lançado para a lateral, efetuando o disparo fatal.
O MP se pautou basicamente dizendo que o PM não teve intenção, porque teoricamente não tinha inimizade com o Saulo, e teoricamente tentou se esquivar do veículo que supostamente veio para cima, afirmou Rattes, acrescentando que a marca de um solado no veículo foi a base da decisão. Esse laudo foi realizado já na delegacia de Guarapuava, não foi feito em pormenores no local do fato, pontuando que houve um lapso de tempo muito grande entre os disparos e a perícia.
JULGAMENTO
De acordo com Marinaldo, a expectativa da família é que o juiz Adriano Scussiatto Eyng mantenha a denúncia original de homicídio doloso, e que o policial seja julgado pelo Tribunal do Júri. Essa decisão cabe ao juiz, ressalta
Mas, caso o magistrado acompanhe o entendimento da promotoria, Rattes diz que o réu receberá um julgamento pautado na legislação penal, mas com uma pena irrisória frente ao fato de tirar a vida de alguém.
Laís afirma que os mais de três anos de espera no caso estão sendo os piores da minha vida e da minha família, e que acredita que a justiça será feita. A morte do meu irmão, de forma tão covarde e precoce, totalmente criminosa, um dia será julgada por um júri popular, finalizou.