Em romance policial, políticos são assassinados com maçarico

O corpo de um deputado foi encontrado na manhã de ontem em um distrito, com as mesmas marcas do crime bárbaro que vitimou outro parlamentar, na semana passada: graves queimaduras nas vísceras provocadas por um maçarico introduzido no ânus.

Crimes desse naipe se espalham pelas páginas de 2.990 graus: A arte de queimar no inferno (2017, R$ 49,9). A premissa do romance é bastante peculiar: políticos corruptos são assassinados de maneira cruel, por meio de um maçarico. O escritor Adilson Xavier sabe cativar os seus leitores, pois no íntimo é difícil discordar e condenar a motivação do serial killer.

Mas a situação não é tão simples assim. É fácil concordar com a eliminação pura e simples de indivíduos egoístas e que destroem a vidas dos menos favorecidos. No entanto, esse tipo de justiça com as próprias mãos esbarra na moralidade e na ética. Afinal, onde ficam os direitos humanos? Geralmente, quando falha a civilidade, impera a brutalidade e a barbárie.

Recém-lançado pela Panda Books, o livro de Xavier é um interessante thriller policial à brasileira. Apesar da falta de tradição no gênero, a literatura nacional já legou autores do quilate de Luiz Lopes Coelho, Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza. Talvez o publicitário Adilson Xavier possa entrar nesse grupo com 2.990 graus: A arte de queimar no inferno.

Em sua obra, o jovem delegado Hermano está longe de ser um policial típico. Filosofa sobre a verdade, gosta de poesia. Inexperiente e orgulhoso por jamais ter usado sua arma, ele recebe a missão de investigar o assassinato de um deputado federal acusado de desviar verbas destinadas às vítimas de uma grande inundação. A arma do crime foi um maçarico, usado com impressionantes requintes de crueldade.

Outros políticos são mortos com o mesmo ritual torturante. Um pastor evangélico, ex-presidiário, surge como suspeito.

A população batiza os assassinos como Vingadores do Povo. Pressão total. Ódio e desinformação esquentam os ânimos. A vida de Hermano se transforma num inferno.

EXTRALITERÁRIO

A narrativa do romance de Xavier se expande além das páginas impressas. Na internet, a editora Panda Books criou um site dedicado ao livro, com farto material extraliterário: fotos, vídeos, textos etc.

Dessas informações, a mais curiosa um fictício jornal chamado Notícias do Globo. O periódico, que existe há 147 anos no Rio de Janeiro, apresenta matérias sobre a escalada de violência provocada pelos crimes do maçarico.

É uma espécie de brincadeira ficcional que reforça o lado realístico da trama policial, pois se apropria dos princípios de objetividade e imparcialidade do discurso jornalístico. Trocando em miúdos, é como se o que ocorre na narrativa do livro de Xavier tivesse um fundo de verdade.

AUTOR

Adilson Xavier é publicitário, escritor, roteirista e produtor audiovisual. Ganhador de centenas de prêmios publicitários nacionais e internacionais nas diversas agências em que trabalhou, é atualmente CEO da Zola Filmes, onde cria e produz seriados e filmes para a televisão, internet e cinema.

SERVIÇO

O livro 2.990 graus: A arte de queimar no inferno pode ser adquirido nas principais livrarias (online ou físicas); ou diretamente com a Panda Books, ao preço de R$ 49,9.