Scandurra revisita ‘Amigos Invisíveis’ em show na capital paulista

Neste domingo, o guitarrista Edgard Scandurra (Ira!) retorna ao repertório de ‘Amigos Invisíveis’ (1989), em show na capital paulista. Ao CORREIO, o artista relembra momentos importantes desse trabalho da sua carreira-solo

Em 1989, Edgard José Scandurra Pereira parecia que estava sozinho na empreitada do disco Amigos Invisíveis. Afinal, ele compôs e gravou praticamente sozinho todas as faixas; sem contar a coprodução com Paulo Junqueiro. Só parecia. Parafraseando os versos de Minha mente ainda é a mesma, Scandurra não estava sozinho, ninguém está sozinho.

As canções eram reais e o disco se tornou uma realização artística na carreira do guitarrista e um dos fundadores da banda Ira!. Não foi um sucesso de vendas e mesmo as críticas não foram 100% favoráveis. Mas foi uma experiência musical que me fez crescer muito como músico e compositor, além de me ensinar a como gravar, experimentar instrumentos diferentes e ter o prazer de ter um resultado muito satisfatório ao ouvir faixa por faixa, diz o artista, em entrevista exclusiva ao CORREIO, por e-mail.

Neste domingo (19), às 18h, Edgard Scandurra (56 anos) revisita Amigos Invisíveis em show no famoso CCSP- Teatro Centro Cultural São Paulo, na capital paulista. Ao lado de Taciana Barros (vocais e piano), Fábio Golfeti (vocais e guitarra), Daniel Scandurra (vocais e baixo) e Rodrigo Saldanha (vocais e bateria), o guitarrista tocará o disco de 1989 na íntegra, exatamente como está no vinil. Com direito a algumas faixas do repertório do Ira! (caso de Você não sabe como eu sou e Flores em você); e o tema central do filme Laranja Mecânica, de Henry Purcell, que é uma influência forte para Scandurra.

Lançado em outubro de 1989, Amigos Invisíveis foi gravado em maio e junho daquele ano, no estúdio Nas Nuvens (Rio de Janeiro); e uma faixa em fevereiro de 1989 no Yellow Submarine (São Paulo). Tem composições individuais de Scandurra e algumas com Taciana Barros.

Segundo o guitarrista, o projeto teve um start em 1988, quando o Ira! assinou um novo contrato com a Warner. Naquele momento, ele perguntou ao então presidente da WEA, André Midani, se haveria problema em gravar discos solos. O empresário deu sinal positivo ao anseio de Scandurra em sair da rotina de uma única banda.

Confira, a partir de agora, os principais trechos da entrevista.

Scandurra fez quase tudo em 'Amigos Invisíveis', em 1989 (Arquivo Pessoal)

Desde maio deste ano, você vem de um processo em que revisita pontos importantes de sua carreira em shows com repertório formado por As Mercenárias, Smack, Benzina, enfim, uma série intitulada de Operário do Rock. Como é rever trabalhos (os mais antigos) que foram feitos numa época em que você tocava em várias bandas ao mesmo tempo?

Eu gosto muito de revisitar projetos onde eu era mais uma pessoa colaborando e onde podia ficar mais solto, criando meus solos, meus timbres e deixando a guitarra fluir sem nenhum intuito de ser protagonista nas canções. Mesmo. No meu disco solo, Amigos Invisíveis, eu preferi tocar todos os instrumentos e dar ao álbum um som coeso, do que preparar um ambiente pra mostrar-me como um virtuoso, ou anos depois com o Benzina.

Ser um Operário do Rock, como eu intitulei os shows de maio, procura mostrar esse aspecto na música que me é muito precioso, ou seja, fugir de estereótipos de band líder, fazer caras e bocas e outras coisas que não combinam comigo.

Falando especificamente de Amigos Invisíveis (1989), no ano que vem o álbum completará 30 anos de seu lançamento. É o pontapé de um ano comemorativo do disco? Além do show, o que mais você já se programou? Uma edição especial em vinil, com sobras de estúdio, por exemplo?

Sim, pensamos em fazer algo especial no ano que vem para a comemoração dos 30 anos do disco. Reeditarmos o vinil, com a qualidade que eles têm hoje em dia, 180g, seria lindo! Alguns shows em capitais e cidades brasileiras, também. Mas a vida segue e novas músicas precisam surgir. Não consigo me imaginar em turnê com uma comemoração de algo que fiz há 30 anos. Estou atrás de novas músicas, inspiração e criação.

Você produziu Amigos Invisíveis junto com Paulo Junqueiro, que trabalhou em Psicoacústica. Como foi esse processo?

Paulo Junqueiro, na época, era muito diferente dos outros engenheiros de som, no Brasil. Além de saber tirar um belo som de todos os instrumentos, nos tornamos grandes amigos durante as gravações do disco, e não brigamos um instante qualquer nesse processo. Além de tudo, ele era europeu e eu tinha a certeza que o som que eu queria fazer não seria compreendido por um engenheiro de som brasileiro.

Icônica capa do disco de 1989

A faixa Bem Vindo Daniel tem como referência seu filho Daniel Scandurra. Como é, quase 30 anos depois, tocar essa mesma composição instrumental lado a lado com o Daniel?

É espetacular! Não tem explicação, tocar com o filho que além do lado afetivo, familiar e corujesco, me faz muito feliz, por ele tocar realmente muito bem, o baixo.

Você e o Ira! estão com projetos especiais em 2018: 30 anos de Psicoacústica e esses shows do Operário do Rock; sem contar o Ira! Folk e outros. Como eles foram formatados para ocorrerem este ano? Inclusive, existe algum lançamento especial para o Psicoacústica?

Temos muitos discos e a cada ano surgirão aniversários importantes para o Ira! comemorar, mas acho que devemos, sim, celebrar esses projetos. Mas não ficarmos planejando turnês, pois isso nos engessaria por alguns anos e já é quase natural uma banda de mais de 30 anos de idade se revisitar. Acho que temos um desafio quase impossível de superar que é compormos músicas tão boas quanto às de nossos discos do passado.

Aliás, é possível dizer que a faixa Farto do Rock ‘n Roll (do Psicoacústica) já seria um prenúncio do que você faria no ano seguinte, em Amigos Invisíveis? Ou seja, um questionamento do rock clássico indicando uma guinada para a música eletrônica? Naquela linha de desconstrução da guitarra rock?

Farto do rock and roll foi uma provocação, aos caminhos que o Ira! trilhava na época, deixando a veia roqueira um pouco de lado e se voltando mais a elementos brasileiros como batidas diferentes, e do próprio Rap, como em Advogado do Diabo, por exemplo. Também tinha um lado confessional com o cansaço que sentíamos depois de meses fora de casa, viajando por todo o país, muitas vezes, ligando o piloto automático e fazendo nossos shows. Farto do rock and roll fala disso.

Quais são os caminhos da guitarra no rock de hoje? Ou melhor, qual é o futuro do rock, na sua avaliação?

Eu acredito que haverá, em breve, um rompimento da juventude com o que se reserva a nova música, hoje em dia, ou seja, quase nada! Os artistas não param de surgir, mas os espaços são cada vez menores em qualidade e em tamanho! E essa revolta se alastrará para a política, para os desmandos do poder e teremos um rock mais combatente e recuperaremos o espírito de banda, pois hoje temos mais conhecimentos de nomes solos do que nomes de grupos e banda é gang, como disse meu grande amigo Jonatta Doll.

A banda do show de 'Amigos Invisíveis' (Foto: Rogério Alonso)

O show de Amigos Invisíveis terá ainda Taciana Barros, Fábio Golfeti e Rodrigo Saldanha. Fale um pouco sobre essa banda.

Bem, a banda tem remanescentes do lançamento de 1989: Taciana Barros nos teclados, violão e guitarra e Fábio Golfetti na outra guitarra. A Taci é a única pessoa que tocou no disco Amigos Invisíveis, única que compôs para o mesmo disco e fomos casados e tivemos o Daniel Scandurra como filho! Fábio Golfetti, além de ser uma pessoa incrível e um excelente músico, vem de uma banda que impõe respeito em todos nós: Violeta de Outono.

Rodrigo Saldanha sempre foi meu amigo e eu nem sabia que ele era baterista, até se aproximar os shows do Teatro do Centro da Terra e, num bate-papo entre a gente, ele disse que tinha uma bateria e que se eu quisesse, a gente podia fazer um som. Fizemos e ele entrou pra banda. O Daniel conhece muito bem esse disco, que surgiu praticamente no ano que ele nasceu, ou seja, um disco que ele conhece desde bebê. Não é o máximo?

Eu gosto muito de revisitar projetos onde eu era mais uma pessoa colaborando e onde podia ficar mais solto, criando meus solos, meus timbres e deixando a guitarra fluir sem nenhum intuito de ser protagonista nas canções. Mesmo.

SERVIÇO

O Show dos Amigos Invisíveis será neste domingo (19), às 18h, no CCSP- Teatro Centro Cultural São Paulo, sala Adoniran Barbosa (rua Vergueiro, 1000), em São Paulo (SP).

Os ingressos estão à venda na internet, clique AQUI.

A banda do show é formada por Edgard Scandurra (voz e guitarra), Taciana Barros (vocais e piano), Fábio Golfeti (vocais e guitarra), Daniel Scandurra (vocais e baixo) e Rodrigo Saldanha (vocais e bateria).

FICHA TÉCNICA DO SHOW

Amigos Invisíveis LTDA: produção geral

Silvia Tape: produção local

Michel Kuaker: técnico PA e monitores

Phelippe PH: roadie

Cristina Souto: iluminadora

Vinicius Patrial e Guilherme Paccola: projeções

Rafael Pompeu: mídias digitais