Documentário relembra trajetória de videolocadoras e mercado de home vídeo
Fruto de muitas horas de trabalho, o documentário ‘CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo’ (2017) conta a trajetória de surgimento, ascensão e queda do mercado de home vídeo na capital paulista
Primeiro, chegou a TV a cabo. Anos depois, a pirataria desenfreada de filmes em DVD. E a pá de cal ocorreu com a popularização do serviço de streaming (caso da Netflix). Nas últimas décadas, o mercado de home vídeo no Brasil passou por oscilações e sofreu o impacto da ascensão do sistema VOD (vídeo sob demanda, em português).
Nesse processo todo, as videolocadoras (que começaram com as antigas fitas de VHS) foram as mais prejudicadas. Sem condições de competir com as facilidades do streaming, elas praticamente desapareceram do mapa. Em cidades como Guarapuava, ainda é possível encontrá-las em atividade, resistindo bravamente.
Hoje em dia, os antigos clientes (principalmente as novas gerações) podem assistir a um filme ou série sem sair de casa e em qualquer lugar. Basta uma boa conexão de internet e um celular do tipo smartphone. Não é mais necessário se deslocar geograficamente para escolher os filmes; inclusive, sem a preocupação de entregar no prazo combinado.
Ganha-se em praticidade, mas perde-se em interação social. Afinal, nada substitui um encontro fortuito na velha locadora de guerra ou mesmo aquele bate-papo sem compromisso com o atendente. Sobre? Cinema, oras!
Claro que o pessoal que nasceu no ambiente digital não tem noção de como era frequentar uma videolocadora. O auge mesmo ocorreu entre os anos de 1980 e 1990, possibilitando ao amante da Sétima Arte produções nunca antes vistas na TV aberta, ou mesmo rever aquele filme que passou somente uma vez na telinha.
De maneira sentimental, o documentário CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo (2017) capta o espírito de uma época em que os espectadores frequentavam com verdadeiro afã esses estabelecimentos especializados em filmes para locação.
Dirigido por Alan Oliveira, CineMagia é o resultado de horas e mais horas de entrevistas com donos, funcionários, clientes, cinéfilos e críticos ligados ao mercado de home vídeo.
REBOBINE
Segundo o documentário de Alan Oliveira, tudo começou em meados dos anos de 1970, quando surgiu o primeiro serviço de locação de fitas VHS na capital paulista.
Aos poucos, outras iniciativas foram se multiplicando em SP na transição para os anos de 1980. Aliás, um mercado que se consolidou com distribuidoras e publicações especializadas naquela época.
Além de pegar e devolver o filme (intacto, claro), o cliente precisava rebobinar a fita. Caso contrário, pagava multa. Para quem não sabe, um grande cartucho (muito maior do que os disquinhos de DVD) acondicionava uma fita magnética. Esse artefato era encaixado em um videocassete, que rodava o filme.
DIGITAL
Outro momento importante para o mercado de home vídeo foi a chegada da tecnologia de DVD, na virada dos anos de 1990 para os 2000. Os entrevistados em CineMagia comentam que o mercado se revigorou. Naquele momento, os filmes tinham qualidade digital, sem mais os velhos problemas da cópia em VHS.
Mas o que foi, a princípio, uma nova era para as videolocadoras, também representou o início do fim. A tecnologia digital facilitava a pirataria com qualidade. E, mais tarde, surgiu o streaming, um sistema que permitia ao espectador assistir online seu filme preferido, sem necessidade de se deslocar até uma locadora.
Pronto, o mercado entrou em colapso e hoje são poucos os estabelecimentos ainda em atividade. O fechamento da 2001 (São Paulo) e da Vídeo 1 (Curitiba), duas das mais importantes lojas do segmento, simboliza bem o momento presente.
Aliás, a queda das locadoras é um dos momentos mais tristes de CineMagia. Apesar de o espectador saber do final dessa história, é duro ver isso estampado nos olhos daqueles que movimentaram o mercado de filmes nos tempos de glória.
NARRATIVA
Com uma linguagem gráfica que emula as antigas fitas VHS, o diretor Alan Oliveira propõe um filme que mistura nostalgia e drama para contar o momento, talvez, mais emblemático do mercado de home vídeo do Brasil.
Não à toa, os personagens principais dessa história são os empresários que foram donos de videolocadoras em São Paulo. Claro, CineMagia se torna uma homenagem a uma aventura que começou há mais de 40 anos e que, para tristeza de muitos, está com os dias contados.
Nesse sentido, o nome do documentário homenageia uma das videolocadoras que encerrou suas atividades durante as gravações do longa-metragem. E não apenas ela, mas muitas outras foram obrigadas a fechar as portas, como foi a famosa 2001.
Assim, CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo é um filme necessário e que precisava ser feito.