Árvore de Maio: a tradição do mastro perfeito

A procura e o ornamento do mastro perfeito para o Maibaumfest é uma tradição secular. E com um objetivo nobre: agradecer pela bem-sucedida safra e festejar a chegada da primavera no hemisfério norte. A Árvore de Maio, que como o nome sugere, é erguida tod

Pau que nasce torto nunca se endireita, diz o ditado popular e o axé. Logo, não serve para figurar como uma legítima Árvore de Maio, completaria o suábio de Entre Rios. A procura e o ornamento do mastro perfeito para o Maibaumfest é uma tradição secular. E com um objetivo nobre: agradecer pela bem-sucedida safra e festejar a chegada da primavera no hemisfério norte.

A celebração continua a ser repetida anualmente em diversos países europeus, especialmente na Alemanha, Áustria e regiões habitadas por povos de origem germânica. Com os Suábios do Danúbio, a festividade chegou ao distrito de Entre a partir da década de 1950. E como toda boa tradição, ela é cultivada por seres humanos, por sua vez bem chegados a altas doses de diversão.

Quem não gosta de uma boa festa, com direito a dias de preparativos com os amigos, danças, músicas e até uma disputa para conhecer o melhor escalador de mastros da região? Sem falar em algumas brincadeiras, mais comuns antigamente na Europa, que incluíam até furtar o mastro da localidade vizinha.

Tudo isso faz parte da tradição da Árvore de Maio, que como o nome sugere, é erguida todo dia 1º do quinto mês do ano, preferencialmente no ponto central da comunidade. Puxa, que legal, mas não entendi ainda: eles transplantam uma árvore de lugar entre o dia 30 de abril e 1º de maio? Seria uma ideia boa, mas muito simples.

É aqui que começa o maior desafio: embrenhar-se por bosques, matos ou reflorestamentos à procurar da maior árvore, com o caule mais reto. Quando se diz, maior, refere-se a grande, mesmo! Um mastro de 20 metros, que poderia bem ser o suficiente em determinadas regiões, não ganharia a competição germânica mais acirrada. Sim, porque para muitos ainda se trata de uma competição: os organizadores de duas localidades geograficamente próximas e com algum histórico de rivalidade sempre buscarão aquele mastro perfeito.

(Foto: Divulgação)

Dessa forma, não é incomum encontrar, no primeiro dia de maio, um bagual de 35 metros cuidadosamente disposto sobre inúmeros cavaletes na praça central. Ocorre que, por maior que fosse, convenhamos que uma tora lisa não teria muita graça: por esse motivo, no dia anterior, ornamenta-se um cume feito de pinheiro ou cedro meticulosamente preso, guirlandas trançadas com flores e faixas coloridas preparadas com carinho pelas mulheres e, por fim, o bônus: uma garrafa de um bom vinho pendurada bem no alto.

Sim, se fosse possível seria um barril de chope. Com toda certeza. Mas a logística para se erguer uma tora de duas ou três dezenas de metros e algumas centenas de quilos já não é nada simples. Atualmente, opta-se pela praticidade e segurança do auxílio de um trator. Mas ainda persiste a utilização de uma tecnologia mais tradicional: o uso de estacas de madeira em formato de tesouras. Além de demandar o auxílio de várias pessoas, o método demora cerca de meia hora e é acompanhado com expectativa pela plateia. Centímetro por centímetro, o mastro ganha um ângulo cada vez mais próximo aos 90 graus, até finalmente se prender ao chão, para júbilo dos presentes.

A partir de então, as comemorações começam oficialmente, com danças tradicionais feitas em volta ou próximas à Árvore de Maio. E a comunidade confraterniza durante todo o dia com comidas e bebidas igualmente típicas. É o que ocorrerá, por exemplo, na Colônia Vitória, em Entre Rios, no próximo feriado de dia 1º de maio. A partir das 10h, gastronomia, música, danças e recreação integram a programação. A novidade é uma competição no estilo de gincana com diversos jogos de origem germânica, a ser realizada ao final da tarde.

Durante todo o próximo mês, a Árvore de Maio enfeitará diversas localidades mundo afora – no caso de Entre Rios, será levantado um mastro por colônia. Até que, no dia 31, os grupos de dança e música retornam ao local para o ritual de derrubada da árvore. O Maibaum se assemelha a outra tradição, de origem portuguesa, chamada Festa do Mastro, realizada também em algumas cidades brasileiras, mas em outra data e com outros objetivos.

Aliás, um costume antigo da Árvore de Maio, não mais executado em Entre Rios, era a escalada do mastro. Os homens deviam chegar ao cume só pela força dos próprios braços com a convidativa missão de alcançar a garrafa de vinho. Quem conseguisse a proeza, tinha o direito de ficar com a bebida. Uma competição que se assemelha à do Pau de Sebo, também de origem portuguesa e cultivada no Brasil durante as Festas Julinas. Eis o que há de melhor nas tradições: independentemente do mês, a capacidade gregária do ser humano mantém sua ancestralidade viva e em comunidade.

 

***********Klaus Pettinger é jornalista, escritor e o autor do romance ‘O Sumiço do Hanomag’. Neste espaço, ele conta semanalmente curiosidades e fatos históricos sobre a colônia suábia de Entre Rios. Para contato com o colunista: [email protected]; Facebook: klauspettinger