A vida e a obra de ‘Yonlu’ sob a ótica de Hique Montanari

O longa-metragem foi dirigido pelo cineasta riograndense Hique Montanari, e será lançado no circuito comercial de cinemas no dia 30 de agosto

Um jovem gaúcho de 16 anos chamou a atenção de David Byrne – cabeça por trás da banda Talking Heads e do selo Luaka Bop – e teve 14 de suas músicas lançadas. A Society in Which No Tear Is Shed Is Inconceivably Mediocre foi concebido em 2009, dois anos após a morte do promissor músico Vinícius Gageiro Marques, ou Yonlu, como era conhecido na internet.

O caso ganhou enorme repercussão pela forma trágica como o jovem natural de Porto Alegre (RS) morreu, recebendo ajuda na web para cometer suicídio no dia 26 de julho de 2006.

Agora, mais de dez anos depois, sua vida e obra foram retomadas no longa-metragem homônimo escrito e dirigido por Hique Montanari, que explica que o filme agrega três linguagens: ficção, animação e musical/videoclipe.

O musical fica a cargo do uso das principais músicas de Yonlu como trilha sonora do filme, em muitas cenas que se configuram como a linguagem do videoclipe, esclarece. O restante da trilha é composta e executada por Nando Barth.

Já as animações foram feitas com base nas ilustrações de Vinícius, e são usadas em cenas de situações imaginárias ou fantasiosas.

ROTEIRO

O primeiro tratamento do roteiro de Yonlu data o ano de 2008. Porém, a sua produção só foi possível após o lançamento de um edital de financiamento em 2014; as filmagens começaram em agosto de 2016 e seguiram até o segundo semestre de 2017.

O roteiro trabalha sobre algumas camadas narrativas – o personagem título na sua vida real, no ambiente virtual; a sua música e as entrevistas com o analista, por exemplo, explica o diretor, que desde o primeiro tratamento buscou criar uma narrativa não linear.

O ator Thalles Cabral foi escalado para interpretar o personagem. Um artista completo, como Hique diz, interpretando, cantando e tocando. Vale destacar, também, que apesar de ter experiência como ator na televisão brasileira, o filme é a estreia de Thalles nos cinemas.

SUICÍDIO

Uma das características salientadas pelo crítico de cinema Pablo Villaça é que Yonlu é um filme empático com a situação de depressão do personagem. Montanari ressalta isso, afirmando que seu filme não traz revelações, conclusões e nem julgamentos sobre o que aconteceu com o jovem, e não divulga nada além do que está na internet.

O Yonlu artista é o protagonista – suas músicas, suas ilustrações, seus textos, seu imaginário. Mas, assim como na vida real, Yonlu flertou com sites de suicídio e foi estimulado nesse meio a cometer tal ato, diz Hique.

Na percepção do diretor, não há como narrar a história do jovem sem contar que ele era um artista multimidiático: ilustrador, fotógrafo, tradutor em cinco idiomas, multi-instrumentista, compositor, quadrinista e poeta. Em seu som flertava com a música eletrônica, rock, folk, lo-fi e indie.

RECEPÇÃO

Apesar de ainda não ter estreado no circuito comercial de cinemas, o longa-metragem foi exibido em diversos festivais de cinema, caso da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde venceu na categoria de Melhor Filme Brasileiro de Diretor Estreante, e do Festival Internacional de Cinema de Madrid, em 2018.

Mas, para além dos fãs, o longa-metragem se propõe a apresentar ao grande público a vida e a obra do jovem, sem deixar de sublinhar uma visão crítica e pontual sobre o uso da internet. A história de Yonlu não é uma história alegre. No entanto, seu legado artístico é de um valor e de uma importância reconhecida internacionalmente, pontua Montanari.

SERVIÇO

Bilíngue – falado em português e inglês -, Yonlu estreia nos cinemas brasileiros no dia 30 de agosto. Ainda não há informações oficiais sobre a distribuição, mas o filme deve vir para o Paraná. Sobre a possibilidade de ser lançado em plataformas de streaming, o diretor diz que futuramente, tudo é possível.

 

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