Trinta anos aquele dia: Gessinger e ‘A Revolta dos Dândis’

Se você era adolescente durante os anos de 1980 – e amava os Beatles e os Rolling Stones – provavelmente conhece um dos mais importantes álbuns do rock nacional: A Revolta dos Dândis, lançado pelos Engenheiros do Hawaii em 1987. O disco, até então apenas o segundo da banda, colocou os músicos gaúchos Humberto Gessinger, Augusto Licks e Carlos Maltz no mainstream da música nacional.

O que rolou, é certo, foi uma descentralização do rock brasileiro, que até então tinha uma trinca principal: Legião Urbana (Brasília), Titãs (São Paulo) e Barão Vermelho (Rio de Janeiro), bandas tidas como a santíssima trindade do rock n’ roll nacional.

E, quem melhor para falar sobre essa ascensão dos Engenheiros do Hawaii que o próprio cara que elevou a banda a esse nível? Humberto Gessinger, que está em turnê nacional com o show Desde Aquele Dia, que traz uma releitura do álbum de 1987 e de outras fases de sua carreira – incluindo os álbuns solo.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, ele fala sobre a construção do álbum, suas inspirações e as expectativas para o show (com seu power trio composto ainda por Rafael Bisogno e Nando Peters) desta quinta-feira (20), no Pahy Centro de Eventos, em Guarapuava.

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Pensando no cenário da música brasileira nos anos 80, o A Revolta dos Dândis foi um álbum importante, principalmente para dar destaque para o rock gaúcho. Vocês conseguiram perceber essa atenção que a música de Porto Alegre recebeu na época?
Sim, sem dúvida essa questão estava no nosso radar. Tínhamos orgulho de pertencer à cena local, mas nunca quisemos ser uma banda oficialista, chapa branca, do Sul. Acho que o nosso sucesso, junto ao trabalho de vários outros artistas, de várias gerações, colocou mais um tijolo na construção do som do Sul.

c?edito Pietro Grassia (show de estréia)
Show de estreia da turnê (Divulgação/Pietro Grassia)

Ainda falando sobre a primeira versão do álbum, como foi o desenvolvimento? E em relação à turnê, li que ela foi curta. Por quê?
Foi um período de transição. Compus as canções sem saber exatamente qual banda nós seríamos ao gravar. O Marcelo Pitz [baixista e um dos fundadores dos Engenheiros do Hawaii] tinha saído e o Augusto ainda não tinha sido convidado para entrar. O material – que já era bem pessoal e intimista – acabou ficando mais particular ainda. Essas incertezas fizeram bem ao disco. Quem prestar atenção vai notar uma fragilidade interessante permeando várias canções.

E em relação à tour?
Ela foi bem curta porque ficou espremida entre os discos anterior [Longe Demais das Capitais] e posterior [Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém]. Nesse período eu compunha muito, com muita rapidez. Diminuir o ritmo não era uma opção.

Como é revisitar alguns dos maiores sucessos da banda 30 anos depois? As músicas são as mesmas ou você, Peter e Bisogno buscaram mudar os arranjos e a pegada?
Ao pensar nos arranjos, partimos das demos originais, da mesma forma que fiz com o Carlos e o Augusto. Claro que não ignoramos tudo que aconteceu com as canções nesses 30 anos, mas sempre estivemos abertos a novos olhares. Algumas estão com o arranjo muito parecido com o original, principalmente no baixo e na voz. Outras se distanciam um pouco. Mas, a vibe original das composições está intacta.

Isso é uma parte do Desde Aquele Dia, certo? O restante do show é dedicado à sua carreira solo e a participações que você fez com outros músicos. Pensando em seus trabalhos individuais, desde 2013: você mantém as influências passadas? Camus e os existencialistas influenciaram na composição do A Revolta dos Dândis. A literatura ainda é um campo fértil nessa busca por inspiração?
As referências literárias pintam porque os livros fazem parte da minha vida. Não é algo que eu busque, é natural. Não vejo diferença nenhuma entre as formas como trabalho agora e os tempos do Engenheiros. Claro que são outros tempos e eu já não sou um jovem estudante de arquitetura. Mas muita coisa se mantém. O coração tem seu próprio relógio.

crédito Pietro Grassia
(Divulgação/Pietro Grassia)

Para finalizar, o que o público de Guarapuava pode esperar em termos de repertório? Hits como Terra de Gigantes e Refrão de um Bolero vão dividir o set-list com músicas novas como Alexandria?
Rolam os clássicos, mas também o material mais recente, sim. O show começa com A Revolta dos Dândis na íntegra. Depois toco músicas dos meus trabalhos mais recentes (Louco Pra Ficar Legal e Desde Aquela Noite) e canções de várias fases da minha carreira.

SERVIÇO
O show Desde Aquele Dia: 30 Anos de A Revolta dos Dândis é nesta quinta-feira (20), no Pahy Centro de Eventos (rua Guaíra, 5.555). Os portões abrem às 20h.

Para informações sobre ingressos, entre em contato pelo telefone (42) 3623-1921; ou no site da Ingresso Nacional.

Texto: Redação
Foto (capa): Divlgação/Nando Peters