Nas histórias de Dylan Dog, o crepúsculo guarda significados sobrenaturais e que desafiam a nossa vã realidade. No caso do Brasil, acrescenta-se um dado metafórico, ainda mais quando se trata de uma volta.
A aventura Retorno ao Crepúsculo não marca apenas o movimento explícito no título. Tem a carga simbólica do retorno do personagem bonelliano às bancas de revistas de nosso país, após um hiato de 11 anos.
Essa história faz referência à edição que saiu no Brasil no antigo número 7 da editora Record, a ‘Zona do Crepúsculo’. Por isso, o ‘Retorno ao Crepúsculo’ foi escolhido, diz o assistente de divulgação Adriano Rolim Lorentz, referindo-se à história escolhida para protagonizar a primeira edição da nova revista trimestral do Detetive do Pesadelo no mercado editorial brasileiro.
Ao todo, serão três edições de Dylan Dog pela editora gaúcha Lorentz, fundada pela mãe de Adriano, Maria G. Lorentz. A empresa familiar tem como ponto forte a paixão de colecionadores pelos quadrinhos da casa italiana Sergio Bonelli Editore. Atualmente, os leitores brasileiros têm à disposição os títulos periódicos de Tex, Julia Kendall, Mágico Vento e Zagor (todos publicados pela Mythos).
No entanto, fazia mais de dez anos que as histórias de Dylan Dog haviam sumido de circulação, a despeito do enorme sucesso na Itália.
A nova edição pela editora Lorentz (Arquivo Pessoal/Lorentz)
Por isso, Adriano conta que a sua editora escolheu uma história que trata do tema do retorno para abrir a nova fase no Brasil. Dylan e Groucho estão de volta a Inverary, um lugar na Escócia onde ninguém nunca nasce, e ninguém realmente morre. Onde nenhuma doença pode se espalhar e onde o tempo em si é congelado em uma quietude eterna. Uma viagem à origem do tempo, além da morte, da memória e dos limites da realidade.
Essa história foi publicada na Itália em 1991. Mas ficou inédita até hoje em nosso país, explica Adriano, destacando que é impossível um leitor que leu a ‘Zona do Crepúsculo’ não se emocionar com este retorno duplo, ao Brasil e ao Crepúsculo.
Publicado no número 57 da revista mensal italiana, Ritorno al Crepuscolo (no título original) é uma produção de Tiziano Sclavi (argumento e roteiro) e Montanari & Grassani (desenhos). Inclusive, o material foi republicado na Itália em 2001, na série especial Collezione Book.
EDIÇÃO
Para marcar a volta de Dylan Dog ao Brasil, a Lorentz editou um volume com 100 páginas no clássico formato italiano (15,6 x 21 cm), com capa plastificada, miolo em papel branco e preço acessível (R$ 16).
Capa da edição publicada pela Lorentz no Brasil
Além de traduzir a história, o pesquisador bonelliano Julio Schneider colabora com dois artigos especiais.
Depois de estrear com sucesso em uma comic shop de Porto Alegre, a revista começa a ser distribuída para São Paulo e Rio de Janeiro. Em seguida, inicia sua circulação para outras cidades do país. Provavelmente chegue apenas nas melhores bancas das capitais e maiores cidades do interior, diz Adriano, destacando que foi solicitado à distribuidora que o gibi possa chegar a cidades como Guarapuava.
Mas caso isso não ocorra, os leitores de municípios menores podem solicitar a compra da HQ diretamente com a editora ([email protected]). A tiragem é reduzida.
NEGOCIAÇÃO
Depois de três meses de negociação, a Lorentz conseguiu os direitos de publicação do personagem Dylan Dog no Brasil. Sempre nos pareceu inacessível e foi bem difícil. Mas conseguimos, diz Adriano, um amante de quadrinhos há 30 anos.
Edição original da Sergio Bonelli Editore. A Lorentz se manteve fiel ao material italiano
Não por sinal, ele confessa que a empreitada só é possível porque as pessoas envolvidas no projeto são fãs do personagem. Casas editoriais de renome e grandes conglomerados não tiveram interesse em republicar o Detetive do Pesadelo. Fomos os primeiros leitores – não empresários – a conseguir publicar Bonelli no Brasil, comemora Adriano.
ALEGRIA
Apesar das dificuldades, Adriano Lorentz conta que a recompensa veio em pouco tempo. O volume publicado por sua editora já está praticamente esgotado no primeiro ponto de vendas.
Sem contar o retorno positivo dos fãs, que têm apoiado e elogiado o número 1. Conhecemos um monte de gente bacana que adora quadrinhos de qualidade e que estão nos apoiando.
Como exemplo, o empreendedor cita o caso de uma amiga, que deu o volume para o filho de 15 anos. No outro dia, ela entrou em contato dizendo que o jovem havia adorado o personagem e de que queria ler o próximo número.
Um pessoal de Santa Catarina, segundo Adriano, entrou em contato dizendo que também queria publicar os gibis da Bonelli.
História ‘A Zona do Crepúsculo’. Essa foi publicada pela Record
FUTURO
O projeto inicial da Lorentz era publicar três números trimestrais de Dylan Dog. Mas caso os leitores apoiem a iniciativa, a editora gaúcha sediada em Santa Maria pode continuar na empreitada.
PERSONAGEM
Criado por T. Sclavi em 1986, Dylan Dog é um dos personagens mais famosos do universo Bonelli. Dylan Dog é sucesso na Itália desde o lançamento em 1986. Em certos períodos, ele chegou a vender mais que o Tex, explica Adriano, citando o famoso ranger do Oeste americano.
As aventuras do Detetive do Pesadelo alternam horror tradicional com numerosas homenagens aos monstros clássicos (Frankenstein, Lobisomem, Drácula), numa espécie de comédia de horror sofisticado. O ponto forte são os roteiros de Sclavi, que costumam se aprofundar em questões que escapam ao medo tradicional.
Texto: Cristiano Martinez
Fotos: Reprodução