Nascido há 70 anos atrás (e mais dois dias e algumas horas)*

Redação
Reportagem local

Não, Raul. Não esquecemos o seu aniversário. Sabemos que foi no domingo (28). Mas sabe aquela história de que o melhor sempre fica para o final? Claro que o nosso presente ou lembrança não é a melhor possível; mas só o fato de deixar para a última hora dá um gostinho todo especial. Afinal, não é todo dia que alguém faria 70 anos de idade (e mais dois dias e algumas horas).

Porque se você, Raulzito, ainda estivesse vivo, era essa a idade pela qual estaríamos dando os parabéns. Quis a vida (ou o destino) que sua trajetória chegasse ao fim em 21 de agosto de 1989, depois de ter completado 44 anos naquele mesmo dia 28 de junho que nós nos lembramos em 2015.

Como nos versos de um de seus primeiros sucessos, poderia continuar sendo uma metamorfose ambulante, sem ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Ou então, contradizendo o que pregava para si, na letra de outra canção, Ouro de Tolo, estar sentado no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.

Morto prematuramente há quase 26 anos, Raul Seixas, é um mito que permanece vivo e que a cada dia conquista novos fãs. É um ícone do rock brasileiro, que sucessivas gerações cultuam de forma espontânea, sem nenhuma estratégia de marketing neste sentido, como é comum nas últimas décadas com diversos ídolos do cenário pop mundial.

Eu não tenho medo de morrer. Tenho medo de que me esqueçam, disse Raul em uma das diversas fitas que deixou em seu famoso baú. Como ocorre com muitos artistas, Raul Seixas tinha medo de ser esquecido e preocupado com a posteridade cultivava o curioso hábito de se autoentrevistar, gravando essas entrevistas em fitas de rolo ou cassete.

FORA DA LEI
Hoje os escritos e depoimentos gravados do maluco beleza percorrem o Brasil na voz do ator Roberto Bontempo, que há 15 anos encena o espetáculo Raul fora da lei – a história de Raul Seixas. A peça é um musical diferente, em que não há o texto de um autor para contar a história do artista.

Tudo o que eu falo na peça são escritos do próprio Raul. E acho que é por isso que o público se identifica demais com o espetáculo, o que explica a longevidade dele, comenta Bontempo, que nos últimos dias 19 e 20 apresentou mais uma vez no Rio, no Teatro Rival, o musical, que tem direção de Luiz Arthur Nunes e José Joffily.

Fã de Raul desde jovem, o ator conta que a ideia de montar o espetáculo surgiu quando leu O Baú do Raul, livro que reúne os escritos dos diários do cantor. Organizado pela penúltima mulher de Raul, Kika Seixas e pelo crítico musical Tárik de Souza, o livro foi lançado em 1992 e desde então já teve sucessivas edições.

Resolvi fazer o espetáculo para botar o pensamento do Raul no palco. E aí entrei em contato com a família dele, com a filha, com a Kika Seixas, com a mãe do Raul, ainda viva na época. Fui me aproximando das pessoas que conviveram com o Raul. E a partir daí fiz o roteiro do espetáculo, juntamente com os diretores, conta Bontempo.

Para o ator, Raul Seixas foi uma pessoa muito à frente de seu tempo e isso assegura a atualidade de seus escritos, de suas ideias – como a da Sociedade Alternativa – e de suas músicas. É uma obra atemporal. O Raul falava do universo, do mundo, de uma forma muito ampla, abrangente, metafórica e isso acaba não envelhecendo. Pelo contrário, se torna eterno, avalia.

*O Ministério da Educação, Cultura e Bons Costumes adverte: o correto é ‘Nascido há 70 anos’. Mas o pleonasmo do título foi feito de maneira proposital, para entrar no ritmo das canções compostas pela dupla Paulo Coelho e Raul Seixas. Recomendamos não tentar o mesmo em sua casa!

https://soundcloud.com/radionaftalina/raul-seixas-g-it-a