Em ‘Prisioneiras’, Drauzio Varella aborda o universo de uma prisão feminina

Depois mergulhar no universo de homens prisioneiros (Estação Carandiru, 1999) e daqueles que vigiam os encarcerados (Carcereiros, 2012), o médico e escritor Drauzio Varella fecha a trilogia do sistema prisional com Prisioneiras (ed. Cia das Letras, R$ 39,9), livro recém-lançado e já em 3º lugar na lista dos mais vendidos de não-ficção (conforme o portal Publishnews).

No terceiro livro, as mulheres alçam à posição de protagonistas da narrativa de Varella. O médico rememora os últimos 11 anos de atendimento na Penitenciária Feminina da Capital, que abriga mais de duas mil detentas. São histórias de mulheres que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros – inclusive tentando levar drogas aos companheiros nas penitenciárias masculinas em dias de visita -, mas que são esquecidas quando estão atrás das grades. As famílias conseguem tolerar um encarcerado, mas não uma mãe, irmã, filha ou esposa na cadeia.

Narrado em 1ª pessoa, Prisioneiras busca na matéria-prima da experiência vivenciada pelo autor a substância necessária para construir uma obra memorialística. Em um estilo seco e direto, o foco narrativo traz para o tempo presente vidas e personagens que marcaram o passado.

_77A8481_Rodrigo_Marcondes_Garapa_uryi0h.png

REFLEXÃO
Além da ação propriamente dita, com muitas cenas de violência e altas doses de adrenalina, o narrador também aproveita para refletir sobre a organização social criada no universo prisional. Nas prisões femininas as leis são semelhantes, assim como a hierarquia é estabelecida pelo mesmo processo de competição e seleção natural, com a diferença de que o respeito a ela é mais frouxo. Quase por instinto de sobrevivência, a mulher é mais avessa à submissão aos superiores; desde criança aprende a subverter a ordem, de forma a moldá-la aos ensejos pessoais sem dar a impressão de rebeldia, se possível (p. 20).

No trecho acima, Varella utiliza a narrativa para comparar o comportamento entre prisioneiros do sexo masculino e do sexo feminino. Na verdade, trabalhar em uma unidade exclusiva de mulheres era uma experiência totalmente nova para alguém que estava afastado desse universo na medicina. Os problemas de saúde eram muito diferentes daqueles que eu havia enfrentado nas prisões masculinas (p. 14).

132155848SZ
O livro está disponível nas principais livrarias online

TV
Depois do sucesso do filme Carandiru (2003, dir. Hector Babenco), o segundo livro de Varella – Carcereiros – já virou série da TV Globo, com estreia prevista para 2018 (por enquanto, disponível exclusivamente na plataforma de streaming Globo Play).

AUTOR
Drauzio Varella Nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em medicina pela USP, trabalhou por 20 anos no Hospital do Câncer. Foi voluntário na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) por treze anos e hoje atende na Penitenciária Feminina da Capital.

Seu livro Estação Carandiru (1999) ganhou os prêmios Jabuti de Não-Ficção e Livro do Ano. Pela Companhia das Letras, publicou, entre outros, Por um fio (2004), A teoria das janelas quebradas (2010), Carcereiros (2012) e Correr (2015).

Texto: Cristiano Martinez
Fotos: Divulgação/Rodrigo Marcondes