E assim se passa um dia em ‘Ulysses’

Há 95 anos, o romance Ulysses (1922) vem desafiando gerações de leitores. Para uns, é o último suspiro de inovação da literatura ocidental; para outros, é uma verdadeira dor de cabeça para entender as mais de mil páginas escritas (da edição lançada pela Companhia das Letras em 2012, na tradução elogiada de Caetano W. Galindo para o português) pelo irlandês James Joyce (1882-1941).

Obra que retoma o mito de Ulysses, personagem central na Odisseia de Homero (epopeia que estabelece as bases das histórias de heróis e grandes feitos do mundo ocidental), o romance de Joyce consolidou a técnica do fluxo de consciência, que consiste na radicalização dos limites entre narrador e personagem, confundindo o leitor.

E o incrível é que tudo isso se passa apenas em um único dia na vida do protagonista da história Leopold Bloom e de seu amigo Stephen Dedalus: 16 de junho de 1904. Na visão do autor, a verdadeira saga de um homem comum nada mais é do que o seu cotidiano.

Para criar esses personagens ricos e vibrantes, Joyce misturou numerosos estilos e referências culturais, num caleidoscópio de vozes que tem desafiado gerações de leitores e estudiosos ao redor do mundo.

Inclusive, criou-se até mesmo uma celebração mundial denominada de Bloomsday (Dia de Bloom, em tradução livre), que tem esse nome numa referência a Leopold Bloom. É o único caso de uma data dedicada a uma obra literária.

Em todo dia 16 de junho se comemora Ulysses em algum lugar do planeta, com festivais, palestras, recitais etc. A próxima edição será nesta sexta-feira (16), pós-feriado de Corpus Christi no Brasil.

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Jornal mensal destaque o Bloomsday na edição 71

CÂNDIDO
Não por sinal, a edição 71 do jornal literário Cândido, editado pela Biblioteca Pública do Paraná, traz como destaque o Bloomsday. A publicação de junho oferece aos leitores visões idiossincráticas de dois joyceanos a respeito do Bloomsday, fenômeno que ultrapassou o campo literário e se estabeleceu como uma marca cultural forte até mesmo para os não leitores de Joyce.

A tradutora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Dirce Waltrick do Amarante faz um relato apaixonado sobre Ulysses e seu autor — paixão que a levou a diversas partes do mundo em busca de cenas, personagens e lugares eternizados na literatura de James Joyce.

Já o escritor e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Caetano Galindo cria um texto de ficção a partir da ideia de que Leopold Bloom estaria por aí, nas ruas de Curitiba, flanando como o fez na Dublin do início do século 20. Tradutor da versão mais recente de Ulysses no Brasil, Galindo emula o estilo joyceano em uma narrativa que mostra Bloom metamorfoseado em meio aos cidadãos comuns de uma grande cidade brasileira.

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Premiada e elogiada tradução feita por Caetano Galindo

SERVIÇO
O Cândido tem tiragem mensal de 10 mil exemplares e é distribuído gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba e bibliotecas do Estado. É possível ler a versão online do jornal e atualizações em seu site.

Já a versão em português de Ulysses conta com três traduções no mercado editorial brasileiro. A mais premiada e elogia é aquela feita por Caetano Galindo em 2012; a mais antiga e pioneira é a de Antônio Houaiss (de 1966); e existe ainda uma tradução feita por Bernardina Pinheiro em 2005.

Texto: Cristiano Martinez, com assessoria
Fotos: Divulgação e Reprodução